domingo, 25 de janeiro de 2009

A Direita e a Liberdade

Há coisas fantásticas neste post, que começam com uma frase que nem consigo adjectivar: "A liberdade é uma marca da direita e não deve ser usada displicentemente." Curiosamente, os únicos períodos de ditadura que tivemos em Portugal foram de ditaduras de Direita. Quando à Esquerda houve tentativas de derrube da democracia, foi a própria Esquerda a impedi-lo (e assim podemos dever ao PS o facto de o PCP nunca ter levado a sua avante).


Quanto aos casamentos poligâmicos, ou poliândricos, ou seja o que for, a questão não está em cima da mesa. Se estivesse, questiono qual o argumento racional que temos para impedir que pessoas maiores de idade, conscientes dos seus actos, não submetidos a qualquer forma de coerção, sem limitar a liberdade de mais ninguém e absolutamente livres de voltar atrás, tomem uma decisão desse tipo (para um desenvolvimento desta ideia, ler isto).


Como disse o autor deste outro post, e bem, a liberdade à Direita só se usa quando lhe dá jeito. Quando vem de encontro ao conceito de "liberdade" que o autoritarismo típico da Direita concebe sobre como hão-de viver as outras pessoas.

sábado, 24 de janeiro de 2009

Uma cambada de imbecis

Lisboa está geminada com Gaza. A brilhante ideia foi lançada pelo BE. Aprovada pelo PCP e pelo PEV. E contou com a surpreendente abstenção do PS, do PSD e do CDS.
Posso dizer com propriedade que os lisboetas têm na sua Assembleia Municipal um canil de imbecis e que os portugueses têm nos seus partidos de centro-esquerda, centro-direita e direita uma vara de cobardes.

O Super-Estado

Costuma dizer-se que o Estado em Portugal representa 50% da riqueza produzida. É mentira. A percentagem é muito superior. Se pegarmos na CGD (detida pelo Estado) no BES, no BCP, na Somague, na Mota-Engil e em todas as outras empresas (pequenas, médias e grandes) que orbitam em torno do Estado, sendo por ele influenciado e normalmente determinando as suas decisões (não é por acaso que financiam determinados partidos), veremos que o peso do Estado é muitíssimo superior à percentagem vulgarmente e de forma simplista apresentada.

Uma boa prova disso mesmo é o facto de, por causa das suas posições a respeito do Banco de Portugal, do BPN e do BPP, o CDS estar agora a atravessar uma crise de financiamento. É que os empresários portugueses, que com tanta frequência cospem no prato do Estado, estão mais do que habituados a comer o que nele está. E o que está no prato do Estado é o dinheiro dos nossos impostos, o nosso dinheiro.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Coisas que nos fazem pensar

Conhecer e escrutinar as compras por ajuste directo de toda e qualquer entidade pública passou a estar, desde terça-feira, ao alcance de todos os cidadãos. Este passo de gigante na transparência da administração pública não resulta directamente de uma medida do Estado, mas da iniciativa da Associação Nacional para o Software Livre (ANSOL).
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A matéria-prima deste "milagre" da tecnologia reside nas duas bases de dados oficiais referidas, sendo que a das Obras Públicas, gerida pelo Instituto da Construção e do Imobiliário (INCI) e criada em nome da transparência dos contratos, apresenta desde o início grandes problemas de acessibilidade e erros graves. Já com cerca de 15 mil registos de ajustes directos, este portal não obedece sequer a uma ordem cronológica, nem permite a realização de qualquer tipo de pesquisas, o que o torna em grande parte inútil. Por outro lado, as informações fornecidas estão longe de ser seguras, chegando a ser caricatas.
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Para explicar as fragilidades do portal Base, o presidente do INCI, Ponce Leão, disse ao PÚBLICO que o mesmo "ainda está em desenvolvimento", acrescentando que os erros que têm sido detectados correspondem normalmente a problemas na introdução dos dados e não ao software. Quanto à impossibilidade de fazer pesquisas no portal, Ponce Leão diz que os motores respectivos deverão estar a funcionar "dentro de dez dias", acrescentando que a prioridade para o INCI tem sido a criação da base de dados e a segurança do sistema.

É preciso perceber que ao passo que o INCI tem orçamentos superando sempre os 10 milhões de euros, o sítio Transparência-pt.org foi feito com os seguintes custos:

(unidades: euros e tempo-homem, para uma pessoa que nunca programou em PHP antes):
Registo do domínio: 18€
Configuração do webserver, BD do sítio e instalação do WordPress: 3min
Escolher um tema gráfico: 15min
Ajustes de configuração: 30min
Imagens de instituições públicas: 15min
Ajustes de conteúdos: 27min
Motor de pesquisa: 8h45min
Custo total: 18€ + 10h15 min

Vai um tacho?

sábado, 17 de janeiro de 2009

Para que servem as Nações Unidas?

Tenho alguma dificuldade em compreender onde estão os feridos que tanto necessitavam da ambulância da ONU.

(Obrigado ao Boina Frígia)

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Uma história de terror

Filha de imigrantes libaneses, Nariman foi levada ao Líbano aos 14 anos para arranjar um marido. Casou-se com Ahmed, tiveram um filho no Brasil e, há três meses, voltaram para o Líbano.
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Nariman contou também que Ahmed rasgou os passaportes dela e do filho. Ela conseguiu tirar novos documentos e tentou embarcar para o Brasil, mas foi impedida por ordem do marido. O “Fantástico”, então, procurou o cônsul brasileiro em Beirute. “Mulher libanesa não tem o menor direito”, disse o cônsul brasileiro no Líbano, Michael Francis. “Mas ela não é libanesa, ela é brasileira”, afirma o repórter Marcos Losekann. “De qualquer maneira, ela é casada com um libanês, casada com um libanês muçulmano. O marido dela tem direito de vida e morte sobre ela”, diz o cônsul.
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Ahmed disse ainda que já não queria saber de Nariman, mas que não abria mão de ficar com os filhos. Nariman resolveu fugir. “Mas eu preferia a morte do que deixar meu filho”, afirma Nariman.
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Após passar por situações de risco na Síria, Narinam conseguiu acesso na embaixada de Damasco, onde aguarda poder voltar ao Brasil.

GLOBO.COM

Este caso foi uma excepção: acabou bem.

Na tarde de ontem [10/09/2008], Nariman ligou para a família e disse que ela e o filho passam bem. “Todos estão tranqüilos com o fim de tudo isso que aconteceu”, disse Chiah. Na terça-feira, o vôo em que ela decolaria do aeroporto de Istambul, na Turquia, com destino a Milão chegou a atrasar, mas não adiou a viagem. Agora, Nariman deve chegar a São Paulo por volta das 6h30 de hoje e esperar até as 14 horas por um vôo a Curitiba, onde desembarca às 15 horas.

Nariman passou os últimos dias na embaixada brasileira na Síria, para onde foi depois de uma difícil fuga do Líbano, onde mora o marido, que ela acusa de agressão. Em situação ilegal, por ter sido acusada pelo marido de abandono e seqüestro, Nariman precisou da ajuda do governo brasileiro para regularizar documentos. “O consulado e o Ministério das Relações Exteriores arrumaram tudo para ela poder ir para a Turquia legalmente”, conta Chiah.

Gazeta do Povo

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Nada de estranho

As declarações do Cardeal Patriarca a respeito dos casamentos de mulheres católicas com homens muçulmanos, que tanta celeuma estão a levantar, não têm nada de estranho por dois motivos:

- Em primeiro lugar, elas não são estranhas porque são um conselho de prudência perfeitamente razoável. De facto, qualquer mulher dever-se-ia preocupar em saber com que homem se vai casar, muçulmano ou não. Mas deverá estar ainda mais atenta se o homem tem fortes convicções religiosas. A menos que tenham especial prazer em ser tratadas como seres inferiores, as religiões em geral, as abraãmicas em particular e a islâmica em particular não lhes são muito favoráveis.

- Em segundo lugar, estas declarações põem em destaque que toda esta conversa acerca do ecumenismo é apenas uma capa simpática e vistosa para uma aliança contra o pluralismo moral e a laicização de facto que vivemos nas sociedades europeias. O cardeal tem toda a razão quando afirma que os muçulmanos só respeitam o cristianismo porque aqui estão em minoria. Deixemo-nos de discursos pseudo-conciliatórios e vejamos como são tratados os não-crentes ou os cristãos nos países muçulmanos. Veja-se o Líbano, o Iraque, o Irão, o Egipto, as monarquias da península arábica. Veja-se como os muçulmanos são uma infindável fonte de violência na Índia.


Podemos dizer que o problema não está no islamismo em si. Eu concordo. Todas as religiões são intrinsecamente exclusivistas e, por conseguinte, más. Estranho é que o cardeal diga que os muçulmanos não têm o direito de achar que a sua é a única verdade. Será que o cardeal subitamente aderiu ao relativismo? Será que não acha que a sua verdade é A verdade? Claro que acha e, tal como os muçulmanos, tem todo o direito de achar que a sua verdade é a única verdade. Como eu acho que a minha verdade é a única verdade. O que não temos é o direito de impor a nossa verdade aos outros. E é aí que as religiões falham rotundamente, e é por isso que elas são hoje a mais perigosa doença mental da humanidade.


O cristianismo não é melhor que o islamismo e se é mais tolerante que ele, é precisamente pelo mesmo motivo apontado pelo cardeal para os muçulmanos em Portugal tanto falarem no respeito da "cultura nacional" (o que quer que seja isso) e da "sua" religião. É porque a Igreja Católica, ainda que massivamente financiada pelo Estado, está social e politicamente em minoria. Porque a maior parte dos portugueses, se fosse honesta consigo própria, diria abertamente que de facto não é católica. Porque a esmagadora maioria dos portugueses intimamente sabe que jamais toleraria, nas condições actuais, que a Igreja lhe impusesse a sua agenda política tantas vezes escondida, mas cada vez mais revelada.