quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Propostas interessantes

Por estas bandas, as enormidades são non. Parece que agora querem realizar uma grande campanha revolucionária em prol da eliminação dos semáforos, dos sinais, das passadeiras e das marcas rodoviárias. Ao que parece, o bom senso de cada um e a capacidade negocial serão suficientes para que tudo corra às mil maravilhas.


Recordo-me de ler nos Cisnes Selvagens de Jung Chang as milhentas loucuras que durante o regime maoísta se cometeram em nome da ideologia. Por exemplo, uma fantástica campanha contra as flores e em defesa das ervas daninhas, porque as ervas daninhas eram plantas proletárias. Os bloguistas lá do sítio estariam lindamente nesses tempos. Combater os semáforos porque são socialistas é demais. Muito, muito bom. Para ler e recordar.

Puro génio

She respected her husband in the same way as she respected the General Post Office, as something large, secure and fixed; and though she knew the small number of his talents she appreciated his abstract value as a male.


James Joyce, Dubliners

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Petição

PROPOSTA DE EDIFICAÇÃO DE UM MEMORIAL ÀS VÍTIMAS DO MASSACRE JUDAICO DE LISBOA DE 1506

  • No ano de 1506, a cidade de Lisboa foi palco do mais dramático e sanguinário episódio antijudaico de todos os que são conhecidos no nosso território;
  • Durante três dias, 19, 20 e 21 de Abril, estes acontecimentos, que tiveram início junto ao Convento de S. Domingos (actual Largo de S. Domingos), levaram a que cerca de dois mil lisboetas, por mera suspeita de professarem o judaísmo, tivessem sido barbaramente assassinados e queimados em duas enormes fogueiras no Rossio e na Ribeira;
  • (pretende-se) Evocar este hediondo crime em que consistiu o massacre de 1506, inscrito numa política de intolerância que, segundo Antero de Quental, contribuiu para a decadência deste povo peninsular, será fazer justiça póstuma a todas as vítimas da intolerância e constituirá uma afirmação inequívoca de Lisboa como cidade cosmopolita, multiétnica e multicultural.

Teria sido a brincar aos índios e cobóis?

O líder da Juventude Centrista apontou hoje o presidente do Grupo Parlamentar do PCP, Bernardino Soares, como um dos principais protagonistas dos "distúrbios revolucionários" do "Verão Quente" de 1975, altura em que tinha apenas quatro anos.
No almoço do CDS-PP que assinalou o aniversário da operação militar do 25 de Novembro de 1975, na Amadora, Pedro Moutinho disse ser preciso "apontar com frontalidade" alguns dos principais responsáveis por actos como os "sequestros e incêndios às sedes do CDS-PP logo após a revolução de Abril de 1974 e que continuam hoje no activo".
[...] Bernardino José Torrão Soares, nasceu no dia 15 de Setembro de 1971, tendo por isso quatro anos quando se deu o 25 de Novembro de 1975.
Já em relação às Forças Populares 25 de Abril - organização citada pelo líder da JC como estando na mesma linha política do Movimento das Forças Armadas -
[...] terá sido formalmente fundada em 1980 (no período do primeiro Governo da Aliança Democrática, liderado por Francisco Sá Carneiro), ano em que começou a desenvolver a sua actividade. [um bocadinho antes do Verão Quente, portanto]

O PSD e os círculos uninominais

É natural que o PSD esteja particularmente inclinado para a criação de um sistema bipartidário produzido pelos círculos uninominais. Onde de facto há resistências é no PS, no qual há não só uma resistência ideológica de alguns sectores ao monismo como também a compreensão de que seria prejudicado face ao PSD. Se não fossem estas travancas, o PSD já teria levado a sua avante.

Sendo o PSD um partido sem qualquer tipo de cimento ideológico, sempre foi, desde o início, um partido de campanários e caciques. Não é por acaso que os resultados do PSD nas autárquicas são tão bons. O PSD é o melhor partido para quem quer usar a política como forma de obter resultados económicos, seja por carreira directa seja por controlo dos órgãos de poder.
Trata-se de um partido que começou querendo ir para a Internacional Socialista, passou por uma fase de espécie de liberalismo e agora está nos conservadores. Mas, sobretudo, trata-se de um partido criado pelos barões das terras - sobretudo ao Norte. E isto também é importante, porque num sistema de círculos uninominais quem mais ganha é quem consegue garantir um certo número de bastiões. Ao contrário do PSD, o PS não tem Viseu nem Madeira. Tendo uma distribuição mais uniforme a nível nacional, corria o risco de perder consecutivamente eleição após eleição.

Ora, num sistema deste tipo, o que mais conta é fulanização da política e não os pressupostos políticos ou ideológicos. Perfeito para um partido com ideologia a menos e caciques a mais.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Entre o erro e a cobardia...

A verdade é que és livre de escolher. És livre de sair e de te divertires com quem tu quiseres. És livre de te assumires como és. A verdade é que és livre de dizer o que pensas e de te manifestares a favor ou contra esta campanha. A verdade é que és livre de ser feliz.

Ao ler este texto, que terá sido divulgado pela Tagus, dirigi-me ao sítio da campanha. http://www.orgulhohetero.com/ - vazio. Fui então ao sítio principal da Tagus, para ver se lá estaria o texto. Nada. A campanha foi substituída por uma mais antiga, sobre qualquer coisa também não muito brilhante sobre Tunas e Verdade (creio que as maiúsculas ficam aqui bem).

É uma pena que a Tagus tenha retirado a campanha. Sobretudo tenho pena dos accionistas da Tagus. A campanha afastou alguns clientes, e os que poderia ter aproximado por defender esta ideia do cerco das minorias sexuais, perdeu-os com alguma falta daquilo que vulgarmente se diz que está entre as pernas mas que em boa verdade está na Vontade (mantenho-me nas maiúsculas). Chocou, é um facto. Mas se não abriu as portas do mercado, serviu para quê?
Em todo o caso, os pseudo-politicamente-incorrectos que afirmam que a família está em perigo, a raça branca a ser exterminada, a religião a ser perseguida e outros disparates que tais podem regozijar-se. Aí está mais uma prova da existência do lobby gay, essa invenção de um homem que se passeou de tanga nas ruas daquela que seria na altura a capital nacional da pedofilia.

Eles pareciam estúpidos. Mas começo a perceber que talvez vejam mais longe do que eu pensava.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Da idiotice marketeira ao pós-fascismo que perde a vergonha

Numa profissão que exige muita criatividade é certo que haverá ideias menos felizes a serem concretizadas (em marketing isso significa quase sempre, mas não quero ir por aí).

De há uns dias a esta parte vi uns cartazes, no metro, da cerveja Tagus que nos questionam se somos heteros e que apelam ao Orgulho Hetero, havendo até um espaço em que todos os heteros do país, fartos de serem discriminados e ghettizados em bares manhosos do Príncipe Real, podem encontrar pares (fui ao sítio, e na verdade fiquei mais com a impressão que aquilo vai servir é para encher os mails de campanhas publicitárias, mas isso também não interessa nada).


O que me chateia nesta campanha é a ligeireza com que o tema (o orgulho gay, expressão que não me agrada mas que compreendo na medida em que é um combate à homofobia e não uma minimização dos "não-gay") é tratado. Verdade seja dita, de uma cerveja que patrocina os festivais "académicos" (não, não vou voltar à vaca fria das praxes) não espero grande coisa. Mas isto é bastante diferente. Sobretudo, é um tema que a direita (PP e PNR sobretudo - não, não estou a dizer que os dois são a mesma coisa, estou a dizer que têm abordagens muito semelhantes em muitos pontos, o que não quer dizer que o PP seja - porque não é - de extrema-direita) costuma utilizar, um estilo de tratar as coisas - esta ideia de que a família tradicional está a ser destruída, que se está a discriminar negativamente os heterossexuais apenas porque as minorias sexuais começam a ser respeitadas, que os ricos são perseguidos apenas por serem obrigados a pagar impostos, que o casamento está a ser posto em causa, que a Igreja é uma pobre coitada impotente perante o avanço inexorável e maquinado por estranhas, invisíveis (talvez, digo eu, porque inexistentes, ao contrário da Opus Dei) forças que visam instituir coisas abomináveis como o laicismo e o secularismo.
Por conseguinte, esta é das campanhas publicitárias nacionais mais politizadas de que me recordo. Não se admirem pois os marketeiros de o consumo também ele se politizar. Claro - o nicho de marcado PNR é todo deles. Mas, entre cidadãos que não simpatizam com a campanha, e aqueles que não a percebem (estou a pensar naqueles - que ainda existirão - para quem a expressão hetero ainda é vagamente nebulosa) parece-me que há partida a urina de burro com nome de rio parte em desvantagem.


NOTA - dado que duas pessoas (pelo menos) terão pensado que estes cartazes são os que estão nos mupis, aqui vai o esclarecimento: estes cartazes são um ataque à campanha da Tagus e estãoa circular em vários blogs que já pude ler. Creio que o que reúne maior quantidade é este. Reitero que o sítio da campanha da Tagus é este e só este: http://www.orgulhohetero.com/.
Peço desculpa pelos possíveis erros e espero que tenha ficado claro.



Entretanto, surgem já ideias para futuras campanhas da Tagus, como por exemplo o Orgulho Jovem ou o Orgulho Macho. Creio que são ideias tão indigentes do ponto de vista intelectual quanto a original. Creio que estão ao nível dos marketeiros da Tagus que, certamente, aproveitá-las-ão.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

A piroseira bacoca transformada em pensamento político

Concordando eu com praticamente tudo o que está neste texto, não posso deixar de me enternecer com a joãocarlosespadada
  • Estão a transformar-se no equivalente Angolano à Aristocracia Europeia no que toca à defesa da ordem e propriedade privada.
As verdades absolutas, a falta de rigor histórico, a maiúscula - meu deus! - a maiúscula!...

Isto é uma escola de pensamento que se está a instituir, uma verdadeira escola. Bom, melhor ainda, um colégio. Uma verdadeira Eton do pensamento político.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Desafio bloguista

A Bianca lançou-me um deafio, e aqui vai ele:

1. Pegue no livro mais próximo, com mais de 161 páginas – implica aleatoriedade, não tente escolher o livro;
2. Abra o livro na página 161;
3. Na referida página procurar a 5.ª frase completa;
4. Transcreva na íntegra para o seu blogue a frase encontrada;
5. Aumentar, de forma exponencial, a improdutividade, fazendo passar o desafio a mais 5 bloggers à escolha.

O livro é Les Amours Interdits de Yukio Mishima e a frase Ils s'attablèrent dans un coin et Kyôko ôta avec désinvolture ses gants de dentelle.

As próximas "vítimas":
Dieter do A Luta
Jardineiro de Montparnasse do Dançamos no Mundo
José Luiz Sarmento do As minhas Leituras
Ana Rita do Margem Esquerda
Graça do Inflorescências

domingo, 18 de novembro de 2007

Doença, diz a "psicóloga"



Para uma boa análise de quem é esta coisa e do que ela defende, ler este bom post.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Escola pública, escola estatal?

Cerca de três décadas de decadência do Estado-Providência derrubaram a mentalidade então dominante de "tudo ao Estado" para um crescente "tudo aos privados" (ou, pelo menos, criou-se uma divisão entre estatistas e privatistas, coisa que muito debilmente existiria há umas décadas atrás e certamente nunca com predomínio dos segundos). É curioso, contudo, que nem num nem noutro campo surja alguém que recoloque algumas questões.

Desde logo, por que é que antes de dizermos quem é que deve cumprir determinada tarefa, ninguém se questiona sobre a natureza da tarefa? Será que é mais importante o como que o porquê? O que quer dizer isso de escola pública, essa entidade que a Esquerda afirma defender com unhas e dentes e a Direita, com pejo de afirmar que não gosta dela, afirma que os privados know-best? E quem são esses privados? Não passarão eles apenas da manifestação conceptual (nebulosa, nebulosa como sempre) do nosso zeitgeist, como noutros tempos o foi o Estado? Não será possível encontrar uma posição que transcenda o aparato e se concentre não na liturgia (nas fórmulas, nas imagens adoradas) mas na missão?

Eu permito-me a arrogância de não ter preferência por nenhum molde pré-fabricado de escola (ou seja, não acho que nenhuma seja melhor porque sim). No entanto, afirmo claramente que defendo a escola pública, não a escola estatal da Esquerda, mas uma escola que (este é o fim, a tarefa, a missão) cumpra objectivos públicos. E desde que os cumpra, ela é pública e deve ser financiada com dinheiro de todos. No entanto, como ela pode tomar todas as formas legais disponíveis, fica-lhe vedada a posse estatal: num sistema concorrencial, não faz sentido o Estado concorrer com os demais - seja porque um governante estatista pode beneficiar a escola estatal, seja porque um governante privatista vai usar a escola estatal como bombo da festa.
Se rejeito a escola estatal da Esquerda, não rejeito menos a defesa da desRazão pósmodernista da Direita, que defende que as escolas podem ensinar coisas diferentes do que a Constituição dita (por hipótese, ensinar teorias religiosamente fundadas ou a discriminação com base racial ou sexual). Isto resulta do próprio conceito de escola pública: uma escola que ensina algo contrário ao que o contrato que nos rege a todos afirma, não pode (não faz sentido) ser financiada com dinheiro de todos. Por fim (e não menos importante) nenhuma escola pública pode discriminar qualquer aluno com base noutro critério que não seja o puro mérito (medido com exames nacionais anuais). A escola que o pretenda fazer, deve poder fazê-lo - mas não pode esperar que todos contribuam para a manutenção, no seio de uma sociedade que deve ser aberta e meritocrática, de sistemas endogâmicos e exclusivistas.