quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Da idiotice marketeira ao pós-fascismo que perde a vergonha

Numa profissão que exige muita criatividade é certo que haverá ideias menos felizes a serem concretizadas (em marketing isso significa quase sempre, mas não quero ir por aí).

De há uns dias a esta parte vi uns cartazes, no metro, da cerveja Tagus que nos questionam se somos heteros e que apelam ao Orgulho Hetero, havendo até um espaço em que todos os heteros do país, fartos de serem discriminados e ghettizados em bares manhosos do Príncipe Real, podem encontrar pares (fui ao sítio, e na verdade fiquei mais com a impressão que aquilo vai servir é para encher os mails de campanhas publicitárias, mas isso também não interessa nada).


O que me chateia nesta campanha é a ligeireza com que o tema (o orgulho gay, expressão que não me agrada mas que compreendo na medida em que é um combate à homofobia e não uma minimização dos "não-gay") é tratado. Verdade seja dita, de uma cerveja que patrocina os festivais "académicos" (não, não vou voltar à vaca fria das praxes) não espero grande coisa. Mas isto é bastante diferente. Sobretudo, é um tema que a direita (PP e PNR sobretudo - não, não estou a dizer que os dois são a mesma coisa, estou a dizer que têm abordagens muito semelhantes em muitos pontos, o que não quer dizer que o PP seja - porque não é - de extrema-direita) costuma utilizar, um estilo de tratar as coisas - esta ideia de que a família tradicional está a ser destruída, que se está a discriminar negativamente os heterossexuais apenas porque as minorias sexuais começam a ser respeitadas, que os ricos são perseguidos apenas por serem obrigados a pagar impostos, que o casamento está a ser posto em causa, que a Igreja é uma pobre coitada impotente perante o avanço inexorável e maquinado por estranhas, invisíveis (talvez, digo eu, porque inexistentes, ao contrário da Opus Dei) forças que visam instituir coisas abomináveis como o laicismo e o secularismo.
Por conseguinte, esta é das campanhas publicitárias nacionais mais politizadas de que me recordo. Não se admirem pois os marketeiros de o consumo também ele se politizar. Claro - o nicho de marcado PNR é todo deles. Mas, entre cidadãos que não simpatizam com a campanha, e aqueles que não a percebem (estou a pensar naqueles - que ainda existirão - para quem a expressão hetero ainda é vagamente nebulosa) parece-me que há partida a urina de burro com nome de rio parte em desvantagem.


NOTA - dado que duas pessoas (pelo menos) terão pensado que estes cartazes são os que estão nos mupis, aqui vai o esclarecimento: estes cartazes são um ataque à campanha da Tagus e estãoa circular em vários blogs que já pude ler. Creio que o que reúne maior quantidade é este. Reitero que o sítio da campanha da Tagus é este e só este: http://www.orgulhohetero.com/.
Peço desculpa pelos possíveis erros e espero que tenha ficado claro.



Entretanto, surgem já ideias para futuras campanhas da Tagus, como por exemplo o Orgulho Jovem ou o Orgulho Macho. Creio que são ideias tão indigentes do ponto de vista intelectual quanto a original. Creio que estão ao nível dos marketeiros da Tagus que, certamente, aproveitá-las-ão.

11 comentários:

Anónimo disse...

Parabéns pela reacção heterofóbicaa. O meu irmão é gay e não compactua com a vossa militância fundamentalista. E se a campanha fosse "orgulho metro", talvez ninguém se sentisse ameaçado com os seus complexos de afirmação. Depente uma porcaria de um anúncio tornou-se numa caça às bruxas, tipica de regimes totalitaristas contra os quais todos nós (amantes da liberdade de expressão e da diferença) lutámos!

Quanto à argumentação básica do "e se fosse orgulho branco?", estamos a fazer paralelismos completamente falaciosos mas que dão jeito à argumentação. Que eu saiba nunca a comunidade heterosexual tentou exterminar a comunidade homosexual, ao contrário dos nazis.

Igor Caldeira disse...

Bom, isto deve ser uma colecção de mostrengos que em meia hora veio ao meu blog.

Primeiro diz
"Que eu saiba nunca a comunidade heterosexual tentou exterminar a comunidade homosexual"
E depois diz
"ao contrário dos nazis".

E os nazis eram mandaram os homossexuais para os campos de concentração em nome do quê?

GMaciel disse...

Depois de tudo lido, fiquei sem bem saber como expressar a repulsa que senti. Acho que o teu título diz tudo.
:(

Quanto "à colecção de mostrengos", sabes bem como a cobardia actua em matilha.
:(
jocas grandes

Pedro Fontela disse...

hmmm porque é que cada vez que sai uma bacorada homofobica o autor sente a necessidade de inventar um conhecimento em primeira mão de alguém que é... que valente treta.

portugalgay disse...

ver também:

www.orgulhohetero.org

e

www.orgulhohetero.net

Anónimo disse...

O post é condescendente para com a "campanha de marketing".

Quanto à associação em questão tem sérios problemas de cabeça.

Quanto à empresa, num país normal tinha levado já com uma multa financeira tremenda por veicular racismo, e discriminação de escolha e orientação sexual.

Para mim que não sou "gay", o que me incomoda é uma empresa privada fazer marketing claramente anti democrático e ninguém se incomodar com isso.

Quanto ao primeiro comentador é completamente estúpido.
Nem sequer percebe - considerações sobre gays ou não gays aparte - porque é que uma empresa de cervejas( ou outra qualquer) não deve patrocinar um arroto destes com estes cartazes.

Se eu fosse dono da Cereuro, a empresa que é dona da marca Tagus despedia sem justa causa logo na hora quem teve esta ideia.

Do ponto de vista económico/comercial isto é o maior tiro no pé comercial que se pode fazer.

Ou então querem destruir a marca por razões contabilísticas.
Só pode, dada a estupidez demonstrada.

E volto a dizer: o post é muito condescendente com isto do ponto de vista de uma campanha publicitária apelar directamente a racismo, discriminação,nazismo, etc.

Igor Caldeira disse...

Dissidente-X, percebi que não estava a ser compreendida a origem destes cartazes em particular, pelo que coloquei uma nota explicativa.

Anónimo disse...

Portanto se eu percebi bem: a Cereuro/tagus mandou fazer uma campanha publicitária apelando ao orgulho hetero e a estas associação de cromos idiotas que tem página na Internet.

E depois o PNR aproveitou e criou uns cartazes a distorcer acampanha da Tagus. É isso?

Se isso estão uns bem para os outros realmente...

Se é isso parte do meu post obviamente não se aplica.

Igor Caldeira disse...

Não, a Tagus fez uma campanha intitulada "Orgulho Hetero", inclusivamente com um sítio online para as pessoas se registarem e fazerem uma comunidade heterossexual.

Estes cartazes são realizados por organizações como o PortugalGay ou as Panteros Rosas e por bloguistas.

A manifestação do PNR, etc., são coisas que se passaram de verdade e cuja associação à campanha visa demonstrar a idiotice da mesma.

Anónimo disse...

Quer dizer: ainda é pior do que eu pensava...

Anónimo disse...

http://anti-especista.blogspot.com/