sexta-feira, 27 de junho de 2008

Debate imperdível



DEBATE

2 de Julho, 18h30, Centro Nacional de Cultura


“Como traduzir um ‘Não’ irlandês para linguagem europeia?”



- Dr. Paulo Sande – Director Gab. do Parlamento Europeu em Portugal
- Prof. Medeiros Ferreira – Professor Universitário (Univ. Nova Lisboa)
- Teresa de Sousa – Jornalista (Público, Antena 1)
- Miguel Duarte – Movimento Liberal Social/Referendum (www.europeanreferendum.eu)


No próximo dia 2 de Julho (Quarta-feira), pelas 18h30, terá lugar, no Centro Nacional de Cultura (CNC) em Lisboa, um debate intitulado “Como traduzir um ‘Não’ irlandês em linguagem europeia?”, organizado pela equipa de Lisboa do magazine europeu CaféBabel Internacional.

Os oradores (supramencionados) terão como moderador Paulo Barcelos, e pretende-se uma exposição informal de opiniões, debatendo as razões que conduziram a União Europeia à situação actual no que se refere ao Tratado de Lisboa, bem como suas implicações e hipóteses de caminhos a seguir.

domingo, 22 de junho de 2008

Crimezinho um pouco menos sujo

Sobre esta notícia já se escreveu que ela não é fiel à verdade porque omite a raça dos assaltantes, que eram todos negros.

Até podem ser (tenho dúvidas, porque eu vivo na Linha e bem vejo os grupos de mânfios, chungosos e gandulos de vária ordem nos comboios; apesar da predominância de negros, também os há - e muitos - brancos) todos negros, mas a minha pergunta é: o que é que isso acrescenta à notícia ou aumenta ao crime?

Será que um crime, se cometido por um branco, é menos mau? Menos grave? É assim uma espécie de crimezinho mais limpito, a modos que... um crime com lixívia? Será? Hum...

Fantasias político-sexuais de um homossexual no armário

O que é que acontece quando um gay não assumido lê um segundo gay não assumido, e quando o segundo gay não assumido lê um terceiro gay no armário? Linkam-se.

Até chegar ao autor desta pérola da miséria neuronal, foi um martírio.

gay no armário 1
gay no armário 2
gay no armário 3.

[por que é que em vez de andarem a escrever imbecilidades sobre a vida dos outros, não se vão aplicar em actividades mútuas bem mais estimulantes?]

sexta-feira, 20 de junho de 2008

O Rapto de Europa

- Apostasia -

O melhor aluno, em economia, da construção europeia parece ter mordido a mão que o alimentou durante trinta e cinco anos. Ou, pelo menos, é isso que uma plêiade de eurocratas e satélites de menor importância mas não menor arrogância nos tem feito crer.

É um facto que o Não está cheio de enganos. Baseia-se numa campanha muitas vezes de desinformação. Há incorrecções múltiplas e mentiras descaradas. E tudo isso engrossou a fileira dos supostos apóstatas da Europa. Haverá sempre aqueles - nos dois extremos do eleitorado - que nunca serão a favor do projecto Europeu. Sucede que isso não explica como irlandeses que votaram nos conservadores do Fianna Fail e do Fine Gael, nos liberais Progressive Democrats ou no social-democrata Labour e que compõem a esmagadora maioria do povo irlandês pôde votar Não.

Os seguidores dessa pérola do pensamento político democrático, Sérgio Sousa Pinto, sentir-se-ão tentados a secundá-lo na opinião de que sobre questões importantes não deve o povo pronunciar-se. Eis o referendo irlandês como prova. O povo simplesmente não tem capacidade para compreender o que está em causa.

A questão é - "e alguém sabe o que está em causa?" Alguém leu e interpretou o Tratado de Lisboa para se pronunciar (já não digo votar!) com um mínimo de consciência sobre o que está em causa? Quer-me parecer que, exceptuando algumas centenas de cozinheiros do Tratado e outras tantas centenas de desocupados, ninguém o tenha feito. E das duas uma. Ou ele é importante mesmo, e aí tem de ser legível; ou é irrelevante, e então não se percebe porquê tanta indignação com o asterixiano Não irlandês.

- Cobardia -

Se me perguntassem como, caso Sócrates não tivesse descarada e vergonhosamente faltado ao seu compromisso eleitoral de realizar um referendo, votaria eu num referendo sobre o Tratado, eu diria que votaria Sim. Não o diria por convicção, por achar que se estava a erguer mais uma pedra no edifício europeu, ágora de meio milhar de milhão de pessoas. Votaria simplesmente por medo.

A táctica da eurocracia para fazer-nos aceitar tudo o que impõem é simplesmente o medo. Que o projecto pare, que o projecto regrida, que o projecto morra. E a ameaça é menos irreal que o que possa parecer. Um dos benefícios - talvez o principal, o crucial - das Comunidades tem sido o forçar a convivência entre elites dos vários países delas componentes. Elites que décadas antes arrastavam centenas de milhões de pessoas para guerras cíclicas que foram pouco a pouco minando a supremacia europeia sobre o mundo, num processo autofágico absolutamente notável.

A União Europeia é hoje a fonte de rendimentos e uma fonte de prestígio para uma horda de gente que sempre estará entre a elite governante. A diferença é que agora as elites europeias partilham a mesma malga. E, por amor de si, por inconfesso interesse próprio, não lhes conviria que a UE entrasse em perigo. Por detrás do verniz recente do cosmopolitanismo, muita coisa se esconde. Nada que, como europeus, não devêssemos já sabê-lo.

E portanto é por medo dos eurocratas e da sua bestialidade mal contida (e visível nas reacções ao referendo irlandês), por receio que a UE seja posta em perigo e as nossas queridas elites se voltem a dividir e a recrutar-nos para as suas guerras privadas, que eu me inclinaria para o Sim. Mas será que o projecto europeu tem de ficar reduzido a isto, um jogo de chantagens, esse mesmo jogo a que eu estaria disposto a ceder, essa mesmo dança que Lisboa dança, ao inventar opting-outs anglo-polacos precisamente nas matérias que são absolutamente decisivas para a Europa, as questões civilizacionais, a defesa do Indivíduo, esse rapto de todo um continente por uns milhares de burocratas?

- Utopia -

"Felizmente, o que sucedeu em Nice não foi exactamente um desaire. A Europa nunca foi mais Europa do que hoje. O que sofreu um sério revés em Nice foi o europeísmo, a paixão, a utopia, o desejo de uma Europa que não seja apenas uma bem sucedida colecção de egoísmos nacionais, uma outra arrumação do eterno «equilíbrio» intereuropeu, em detrimento de um outro modelo de convivência europeia."
Eduardo Lourenço, "Da identidade europeia como labirinto", in A Europa Desencantada - Para uma mitologia europeia

É estranho ler um texto de 2000 e perceber que em oito anos nada mudou. E era suposto ter mudado. Era suposto que tivessemos hoje um pilar político na nossa casa comum. Mas não temos, e digo mais: a elite europeia não quer que esse pilar exista. O pilar de uma democracia é formado pelos cidadãos. E enquanto os cidadãos não tiverem uma palavra a dizer, mais ainda, enquanto os cidadãos da Europa não se puderem expressar e decidir enquanto cidadãos europeus e não apenas como cidadãos dos seus países, o pilar político europeu será uma miragem, uma espécie de distopia com a qual uma elite de burocratas e políticos profissionais podem ameaçar os cidadãos enquanto espalham regulamentos que denunciam uma febre de controlo panóptico demencial sobre a definição dos caracóis, as dimensões das laranjas e a existência de galheteiros.

Na transição do Tratado Constitucional para o Tratado de Lisboa, o que era absolutamente crucial - a Constituição - ficou pelo caminho. Restou um tratado praticamente igual, pouco menos extenso, muito mais pobre, tão ilegível como e absolutamente imoral pela desprotecção dos indivíduos perante governos nacionais mais belicosos no que aos Direitos Humanos concerne, como o britânico e o polaco.

Eu arrisco dizer que o que está mal não é o excesso de avanço da Europa. É que a Europa simplesmente não avança. E, se podemos não ter lido o Tratado, isso não significa que sejamos estúpidos. Os eurocratas não acreditam nisso, mas é verdade - nós não somos estúpidos. E percebemos que se a Europa marca passo politicamente, mas novos poderes são passados para cima, algo está mal. Há algum plausível motivo para aceitarmos dar mais poder a quem não nos presta contas?

O que falta é mais Europa. Depois de três Nãos de seguida, eu creio que a eurocracia devia meter o Tratado na gaveta e fazer aquilo que há muito deveria ter feito. Enquanto a Comunidade era apenas um espaço de mercado livre, o funcionamento meramente burocrático, a dialéctica neofuncionalista, chegavam perfeitamente. Hoje que a Europa é um espaço que se assume como União também política, tem de ser aquilo que os estados que a compõem são: uma democracia. E assim,


- Que o próximo Parlamento Europeu seja eleito com a incumbência de, conjuntamente com os Governos nacionais (essa dupla característica, a comunitário e a dos estados, não pode desaparecer), redigir uma Constituição;
- Que os europeus votem todos no mesmo dia sabendo que votam todos para algo que vai ter repercussões em toda a União;
- Que uma vez havendo texto, cada povo se pronuncie em referendo;
- E que, agora sim, verdadeiramente livres, os europeus sejam também responsáveis: quem recusar uma tal Constituição terá de ser consequente e abandonar a União Europeia.

A crise voltou


Ontem, numa só noite e por culpa dos alemães, um terramoto varreu Portugal. Em 90 minutos,

- O desemprego voltou a subir;
- Os juros também;
- A inflação não quis ficar atrás;
- O crescimento económico voltou a abrandar;
- O petróleo ficou mais caro.

Malvados boches.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Uma questão de liberdade

Ontem, vinte camiões foram sequestrados pelos camionistas em greve. As prisões têm de começar a acontecer. E a morte que ocorreu, recordemo-nos, foi de alguém que se colocou em frente a um camião com o intuito de impedir a sua marcha. Entre tirar a vida a alguém que quer limitar a minha liberdade, e deixar-me espancar por um grupo de camionistas em fúria (e eventualmente morrer), eu escolho salvar a minha vida.

A questão nesta greve é de liberdade. Cada camionista tem o direito de fazer greve. Nenhum tem o direito de obrigar outro a fazê-la.

Em Espanha há dezenas de camiões com pneus furados, trabalhadores a passar fome e impedidos de sair de parques de estacionamento, cargas de camiões destruídas. E a festa vai continuar.

terça-feira, 10 de junho de 2008

Eu também não sou patriota

Definitivamente a ler, da minha amiga Graça, Abdicatio Hereditatis.

Perdemo-nos nas miragens que estão já ali, ao virar da esquina, mas que nunca se concretizam, antes se arrastam, e olhamos os novos deuses do Olimpo futebolístico com a sanha de modernos cruzados, enquanto os suspeitos do costume nos vergam os costados numa miserável estatística que, como sempre, nos coloca no fundo da Europa e, diz-nos o bom senso, se acentua a cada ano, essa negra estatística do fosso esventrado entre ricos e pobres, esse desaparecer sumário duma classe média que, ainda assim, não acorda.

Ah, mas posso ser sócio da selecção de todos nós, para tanto basta-me reassumir a condição asinina e beatificar-me com o espírito santo, o banco. Que se calem os velhos do Restelo pois outros valores mais altos se levantam [...] … então, definitivamente, abdico desta herança que me angustia, me tolhe e vicia na aquiescência de um papel que renego, e determino com orgulho: não sou patriótica.

Falta de imaginação, estupidez e cinismo qb

Cavaco Silva disse um disparate descomunal, que seria irrelevante se ele fosse um borra botas como eu.

Mas não.

Supostamente, ele deve ser o primeiro garante do regime.

Para o facto de ele mais uma vez ter provado que não tem qualquer sentido de Estado, a Direita só conseguir arranjar como contra-argumento para o PCP e o BE o insulto cansado da esquerda folclórica só demonstra a absoluta falta de imaginação e alguma estupidez, ou em alternativa, cinismo, dessa mesma Direita.

Custaria muito assumir que o tipo não agiu bem? Talvez custasse, se intimamente muitos não tivessem rejubilado com o retorno da expressão.

A polissemia do regresso ao passado que Cavaco representou

Ter Cavaco Silva sido eleito Presidente em 2006 não foi um regresso ao passado apenas porque ele já tinha sido presidente do Conselho de Ministros, aliás, perdão, Primeiro Ministro.

De todos os quatro Presidentes da II República, Cavaco Silva é o pior. Nunca se viu tanto disparate, tanto insulto à memória e à inteligência.

Devia ser despedido.

Sem pré-aviso.

Ou indemnização compensatória.

Ver aqui as declarações.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Qu'est-ce qui se passe avec les jeunes portugais?


Quando hoje contava a uma francesa que estava a ponderar dar às de Vila Diogo nos próximos meses ela respondeu-me escandalisada que não sabia o que se passava com os jovens portugueses. A maior parte daqueles com quem tem falado ou já saíram ou querem sair tão breve quanto possível. E o que seria do país sem estes jovens?


Ela apercebe-se no fundo deste fenómeno.


A questão que devemos colocar é: que será dos jovens com este país? Quanto ao país, a minha primeira inclinação é dizer: com menos gente, ficam mais oportunidades para quem se aguenta à bronca e escolhe continuar a vegetar mais uns tempos. Na década de 70 foi isso que aconteceu. Com mais de um milhão de pessoas a fugir, a pressão demográfica fez-se sentir com menor intensidade. E isso é bom para, por exemplo, os salários.


O curioso contudo é que num país envelhecido e a envelhecer a uma velocidade alucinante (o nosso saldo natural é já deficitário) a mera possibilidade de haver pressão demográfica me tenha assomado. O problema não é demográfico: é económico, é político e é cultural; em suma, o problema é irremediavelmente estrutural e mesmo que com um ambiente económico mais favorável e decisões políticas mais corajosas o atraso cultural não seria superável.


Como explicar o caso que aqui relatei de uma rapariga que em Portugal não conseguiu ir a lado nenhum e decidiu ir para a Irlanda, onde acabou trabalhando numa área para a qual qualquer empresa portuguesa pediria um engenheiro ou um gestor, senão através de um défice cultural?
Tratar-se-á antes de uma questão de superavit de presunção dos empregadores portugueses?
E não serão ambos a mesma coisa?

Vade retro Santanás

A Ana Rita Ferreira tirou a mesmíssima conclusão que eu a respeito das eleições no PSD. Eles ainda estão sob o efeito de fumos. Ou pós. Ou brilhantina.

Talvez se lhes dermos uma fitinha do Senhor do Bonfim a coisa passe.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

A Leste da Europa

Un jour viendra où vous France, vous Russie, vous Italie, vous Angleterre, vous Allemagne, vous toutes, nations du continent, sans perdre vos qualités distinctes et votre glorieuse individualité, vous vous fondrez étroitement dans une unité supérieure, et vous constituerez la fraternité européenne, absolument comme la Normandie, la Bretagne, la Bourgogne, la Lorraine, l'Alsace, toutes nos provinces se sont fondues dans la France.

Victor Hugo

Menos de vinte anos foram suficientes para boa parte do Leste europeu se reintegrar no espaço civilizacional do seu continente, abruptamente cindido pela Cortina de Ferro. A democracia parlamentar e a economia de mercado transformaram sociedades anquilosadas mas certamente desejosas de mudança. Mesmo onde os percalços surgem - como na Polónia - o voto popular a seu tempo emenda o erro. Até a Sérvia, uma aldeia gaulesa tanto por vontade própria como por ajuda euro-americana (a dualidade de tratamento nos casos da República Srpska e do Kosovo demonstra apenas que os rebeldes eslavos são mais pacientes e tolerantes que o que parecem - uma tão grande humilhação poderia resultar em coisas bem piores) deu nas últimas eleições um sinal de querer integrar-se no seio da cultura europeia.

Numa míriade de pequenas vitórias há uma enorme derrota, uma derrota de 140 milhões de pessoas e 17 milhões de quilómetros quadrados.razões históricas que estão por detrás da irredutibilidade russa. Discursos que entre nós nem a maioria da Direita (embora boa parte dela, se pudesse, tê-los-ía - e tem-nos, ainda que encapotadamente) católica portuguesa é capaz de proferir são absolutamente legítimos - mais ainda, são quase-oficiais - na Rússia. Um nacionalismo galopante e um retorno do cristianismo em força (o inevitável apelo à identidade nacional, aos valores tradicionais), de mãos dadas, estão a resultar numa avalanche de atropelos de todo o tipo, ataques, assassinatos e manifestações xenófobas, racistas e homofóbicas.

Este ano treze pessoas foram presas numa marcha em defesa das minorias sexuais. Não é, contudo, nada de novo. Há exactamente um ano atrás o mesmo se tinha passado. É difícil não esmorecer perante isto, mesmo lendo, para dar alento, Victor Hugo: será que alguma vez a Rússia poderá vir a ser europeia, não apenas no mapa, mas principalmente na sua cultura, na sua política, na sua sociedade?

domingo, 1 de junho de 2008

Gerir a crise

Com cerca de 37% dos votos, Manuela Ferreira Leite venceu as eleições no PSD. Com isto o PSD recupera alguma credibilidade, é um facto. Como é também um facto que qualquer esperança de vencer em 2009 desaparece por completo. Manuela Ferreira Leite não tem nada de substancialmente diferente a oferecer. Sócrates faz o mesmo que o que ela poderia fazer, mas talvez melhor. Melhor porque continua o trabalho de quatro anos. Melhor porque não tem (à partida) de alimentar penduricalhos ávidos de poder. Melhor porque, sendo arrogante como Ferreira Leite e como Cavaco, tem pelo menos a vantagem de não estar na ribalta há tempo suficiente para nos fartar de morte.


O PSD, ao ter optado pela senhora Cavaco Silva, apenas demonstrou que ainda não está pronto para sair da crise, embora esteja disposto a suportá-la estoicamente. Goste-se ou não de Sócrates (e eu não gosto) ele foi capaz de transformar o PS e revitalizá-lo. Se o PSD quisesse dar o mesmo salto, teria a mesma coragem de se lançar com uma geração nova. Mas não. Depois de tanta discussão sobre social democracia e liberalismo... ah, o fatal conservadorismo...



PS - Já agora, não sei se um partido no qual uma personagem como Santana Lopes tem quase 30% dos votos merece voltar ao poder nos tempos mais próximos...