A imprensa tem sido extremamente simpática para com Obama e arrasadora para Hillary. Quando digo imprensa, digo também (sobretudo?) a imprensa conservadora, extremamente poderosa e muito politicamente orientada.
Durante algum tempo pareceu-me que seria um embevecimento com alguém que falava em Change. Com um negro. E com um homem que tem um nome muçulmano. (E tudo não mudando em excesso - antes um homem negro que uma mulher branca). Havia qualquer coisa que não batia certo, mas eu estava com dificuldades em perceber porquê.
Se eu tivesse tido uma reflexão um pouco mais sofisticada, teria percebido há mais tempo que se trata de um caso exemplar de log rolling. A capacidade da imprensa influenciar o eleitorado pode estar a servir para levar ao embate um candidato fraco e cheio de pontos fracos que fariam as delícias dos spin doctors republicanos. Obama afogar-se-ia num mar de escândalos e ligações perigosas a racistas negros e terroristas não arrependidos.
Para percebermos um pouco melhor: nos finais da década de 50 e inícios da década de 60 os democratas tentaram fazer passar uma medida tendente a aumentar o financiamento à construção de escolas. Um membro dos Representantes negro, Adam Clayton Powell, pretendeu introduzir uma emenda que excluiria os apoios a escolas segregacionistas. Esta emenda não tinha obviamento o apoio dos democratas do Sul. Se a emenda fosse realizada depois da votação da proposta, seria chumbada (os republicanos e os sulistas votariam contra), mas a proposta em si passaria. Ora, sendo os republicanos contra o investimento na educação, garantiram que primeiro se votasse a emenda, votando a seu favor. A proposta que passou excluía pois as escolas do sul do país; na votação final os democratas do sul aliaram-se aos republicanos e a proposta foi chumbada várias vezes; Powell, de cada vez que ela surgia, propunha a sua emenda. E de cada vez, os republicanos actuavam da mesma maneira: primeiro garantiam a inclusão da emenda; depois votavam contra a proposta.
Com Obama a estratégia é rigorosamente a mesma: atacam Clinton, que sabem ser uma candidata de fibra e sobre quem não há escândalos a desvendar, e protegem Obama. Quando este vencer, será esmagado em dois tempo.
E lá vamos ter mais oito anos de Partido Republicano.
2 comentários:
Mesmo que este cenário não aconteça, Mccain vai ganhar.
É, de longe, o melhor candidato.
Não é o que eu gosto, mas é o melhor.
É possível que sim. É sem dúvida o mais "inócuo" dos três. Vencer um republicano moderado é um desafio muito grande.
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