Há uns tempos e a respeito das afirmações do arcebispo de Cantuária defendi a tese de que não se tratava de um acto de cobardia de um ocidental face ao islamismo, mas antes de um firmar de uma aliança entre religiões. A meu ver, quanto menos liberdade tivermos para criticar o islamismo mais à vontade se sentirão os conservadores religiosos para nos impôr restrições no que ao cristianismo se refere.
Estas economias de escala que os sectores religiosos pretendem fazer começam a dar os seus frutos no Reino Unido. Um anúncio televisivo a uma marca de produtos para cabelos no qual se combinava elementos religiosos e mulheres voluptuosas foi retirado após os protestos de centenas de cristãos que se sentiram ofendidos.
Observação 1
É preciso ser muito joão-carlos-espadeiro para não perceber que a religião e a liberdade são ontologicamente realidades que se repelem. Desde que os homens tentaram ser efectivamente livres (portanto, desde os séculos XVI a XVIII) até aos dias de hoje praticamente todas as lutas pela liberdade coincidiram - directa ou indirectamente - com uma luta contra a religião, seja em abstracto, seja com um culto dominante em concreto. Essa luta desenvolveu-se em torno do direito de afirmação da individualidade - do direito de cada um crer ou não crer e de, crendo, crer à sua própria guisa.
Durante um curto período parecia ter-se conseguido encontrar um caminho para o equilíbrio - cada indivíduo terá a sua religião e o Estado não se mete nisso. Não é líquido que ele esteja já quebrado. Mas começam a avolumar-se indícios de que as religiões querem recuperar a sua capacidade de opressão sobre o Indivíduo.
Observação 2
Os first-comers ao mundo da tolerância - países anglo-saxónicos, Países Baixos - criaram um modelo de convivência, em particular no mundo anglo-saxónico, fundado em ilhas culturais. O modelo multiculturalista é tributário dessa tradição, que durante séculos permitiu que judeus e cristãos vivessem no mesmo país (situação para a qual o primaz da Igreja Anglicana chamou a atenção) embora isso significasse que cada um tivesse regras próprias, comunitárias. Em sociedades pouco evoluídas é um modelo que pode funcionar.
Em sociedades complexas, contudo, a destruição do Estado de Direito com o pretexto do respeito pelas culturas e pelo desenvolvimento das comunidades é um atavismo de consequências catastróficas. O modelo universalista francês, fundado na cidadania abstracta, é o único que pode funcionar e que nos pode salvar do relativismo que caminha de mãos dadas com este retorno da religião política. Tem defeitos e algum dirigismo estatal (que deveria ser extirpado), mas é a melhor base que temos. E, contudo, até esse está em perigo. Sarkozy está a empenhar-se duramente na promoção de movimentos fundamentalistas islâmicos e de um maior destaque da Igreja Católica. Veja-se a cronologia.
3 comentários:
Tirem me deste filme. Estou a entrar em pánico.
Confesso que também já estive bastante mais seguro.
Caro IGOR. lamento mas tenho que assumir: sou islamofobico.
O video Fitna pouco me diz, mas aquele video da lapidação das adúlteras no Irão agonia-me. Não. Não aceito aquela farsa como uma civilização. Quanto mais leio (actualidas ou história), mais irritado fico com essa religião totalitarista. E não me venham chamar de xenófobo, porque aceito bem pessoas das Africas, do Sul da América, da Europa de Leste e da Ásia. Estarei a tornar me um radical? Talvez. mas não posso aceitar a selvajeria.
Cumprimentos
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