terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Hillary Clinton, demasiado à esquerda, demasiado à direita?


Em resposta ao Filipe e ao Sérgio, que aqui me interpelaram a respeito da minha simpatia por Hillary Clinton, aqui vai a minha resposta.


O que o Bill Clinton fez foi, de alguma forma, repor (ou melhor, continuar o trabalho de Reagan e Bush pai na reposição) de um certo sentido histórico do que é o liberalismo e do que é o conservadorismo. O liberalismo visa um Estado com limites bem definidos. O conservadorismo visa um Estado sem limites enquanto continuar a beneficiar as elites.

O que Clinton fez foi limpar o gigantesco défice orçamental e reduzir a dívida pública criada ao longo de anos e anos de absoluto despesismo militarista. E, em contrapartida, orientou o país para a criação de riqueza. Gerar bem estar, diminuir o fardo que a dívida constitui para as gerações futuras e tornar os EUA um país menos belicoso, será isso usar receitas tradicionalmente republicanas? Creio bem que não. Quanto à liberdade comercial, os republicanos só são favoráveis à liberdade de exportar.

Hillary trará, caso vença, para o governo do país a equipa que deu aqueles anos de prosperidade aos EUA. Mas não quero limitar a questão à economia. Há um ou dois meses li um artigo no FT, que infelizmente já não tenho, em que se fazia a comparação entre os três principais candidatos democratas. Ao nível das políticas sociais (saúde principalmente), o candidato que defendia uma política mais activa (mantendo o princípio da liberdade de escolha, no qual assenta o Welfare State americano) não era curiosamente o "esquerdista" Edwards nem o "negro" Obama (por quem a Esquerda anda derretida, mas apenas porque desconhece em absoluto as suas propostas) mas sim Hillary. E conjuga isso, por exemplo, com a liberdade comercial. Essa junção é o âmago do Partido Democrata, que como os americanos dizem e bem (contrariando o sentido comum na Europa em que a palavra se degradou), é liberal.

4 comentários:

Bruno Gouveia Gonçalves disse...

Espanta-me que ainda não tenha lido a oposição de Mrs. Clinton a todas as boas medidas do seu marido, enquanto presidente. Mas enfim, quem conhece a senhora não deveria surpreender...

Igor Caldeira disse...

Aliás, o próprio Bill Clinton é forçado a apoiar a sua esposa, porque na verdade também não concorda nada com ela.

Filipe Brás Almeida disse...

Gostei deste post.

Devo dizer que espero que continuas a escrever com esta clareza singular para o ano 2008.

Feliz Natal e um 2008 para ti.

Como diria o Hitchens: I enjoy a winter solstice as much as the next person.

Igor Caldeira disse...

Filipe, boas entradas, excelente 2008.

Um abraço