quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Bons blogs, bons artigos

Coincidências: no mesmo dia em que li um excelente artigo de João Cardoso Rosas sobre o posicionamento do PS no eixo esquerda/direita, soube que um novo blog, surgido do centro-esquerda. Deixo excertos do primeiro e o texto de apresentação do segundo. Vêm de encontro a muitas coisas que tenho escrito, e não posso deixar de lhes dar a ambos os parabéns (em especial para a Rita).
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Talvez porque foram os liberais os primeiros a assentarem na margem esquerda da política. Talvez porque a margem esquerda esteve, durante tanto tempo, conotada com o marxismo-leninismo, que, actualmente, já não encontra proletariado para fazer a revolução. Talvez porque o centro-esquerda de hoje oscila entre o piscar de olho aos partidos à esquerda dos PCs do mundo e o abraço ao neoliberalismo que regula o mundo. Talvez porque o partido de Lenine se chamava "social-democrata" e o de Sócrates se chama “socialista”. Talvez por tudo isto, é difícil percebermos e definirmos a esquerda dos nossos dias. Ou não. Talvez a margem esquerda seja tão alargada que permitacontributos diversificados... De Marx a Giddens, passando por Bernstein, Callinicos e Rawls. Faremos, por isso, como fez Hayek, explicando porque não somos (e não devemos ser) conservadores. E, já agora, por que preferimos a margem esquerda da vida.
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O consenso sobre o “PS de direita” parece generalizar-se. Mas eu não participo dele.Se quisermos dar algum conteúdo à distinção esquerda/direita teremos de pensar na ideia de rectificação das desigualdades. A esquerda é a favor dessa rectificação porque considera moralmente ilegítimas as desigualdade existentes em sociedades hierárquicas, as desigualdades produzidas pelo mercado, as desigualdades de género, etc. A direita, por sua vez, considera que a tentativa para realizar a igualdade protagonizada pela esquerda é contraproducente porque acaba por destruir as tradições que enquadram e dão sentido à vida humana, a espontaneidade do mercado e a própria liberdade individual. [...]
Pense-se nos incentivos à natalidade que entraram em vigor esta semana. Esses incentivos são condicionais em relação ao rendimento dos agregados familiares. [...]
Pense-se noutro exemplo: a reforma do sistema de pensões. O Governo decidiu manter-se fiel ao regime de repartição e não enveredou pelo regime de capitalização privada que era preconizado pela direita. [...]
Outro exemplo ainda: a despenalização do aborto. Quer concordemos ou não com ela por razões éticas, a verdade é que esta medida se insere numa visão rectificativa das desigualdades e, por isso, é tão cara à esquerda. Na prática, o aborto já estava despenalizado para as classes média e alta. [...] Quem não tinha acesso ao aborto seguro eram as classes baixas e são elas as grandes beneficiadas com o novo enquadramento legislativo [...].
Julgo que aquilo que confunde a esquerda do PS – mas também a sua direita – em relação à marca ideológica das suas políticas é uma certa renúncia ao estatismo em matéria económica. Neste domínio, o Governo é um pouco – infelizmente, talvez apenas um pouco – menos estatista do que seria de esperar por parte de um Governo do PS. Mas isso não demonstra que ele seja de direita. Há uma esquerda estatista e uma esquerda liberal. Também há uma direita liberal (que não é apenas sulista e elitista) e uma direita estatista.
João Cardoso Rosas, Diário Económico

1 comentário:

Anónimo disse...

Um blog com tanta coisa interessante para ser lida e sem comentários.

Leio-e muitas vezes, Igor.

:)