segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Desenvolvimento Sustentável: da Ética Empresarial à Ética dos Consumidores

Bloggers Unite - Blog Action Day

(este post insere-se na iniciativa Blog Action Day pelo Ambiente)

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Já que conhecemos os riscos do atual modelo de desenvolvimento, temos recursos e tecnologia e sabemos o que deve ser feito para alcançar a justiça social e cuidar do planeta, a opção pelo desenvolvimento sustentável depende apenas da vontade política dos governos e da sociedade. Ou seja, trata-se de uma escolha ética.
Manifesto pelo Desenvolvimento Sustentável / 2006 do Instituto Ethos

Parecem modelos perfeitos, mas são verdadeiros fracassos de vendas. Os consumidores europeus continuam a optar por versões mais potentes e não estão dispostos a pagar mais para terem meios de transporte energicamente eficientes.
Diário Económico

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Muitas vezes são as empresas criticadas por não desenvolverem produtos ecológicos ou por seguirem lógicas produtivas socialmente nefastas. No entanto, se realmente defendermos a liberdade e a responsabilidade deveremos, para além de inquirir as empresas, confrontar os consumidores com os seus actos e as suas opções. Não é justo nem benéfico utilizar as empresas como saco de boxe da má consciência global e por outro lado tratar os consumidores como se fossem crianças.

Os clientes, os consumidores, são a chave para alguns dos dilemas que se colocam no que respeita à exequibilidade da ética empresarial. Proliferam os rankings de empresas que são boas empregadoras, desenhados por instituições ou órgãos de comunicação; há também já múltiplos fundos éticos e até índices como o FTSE4Good, destinado a facilitar o investimento socialmente responsável e a aposta em empresas guiadas por uma gestão transparente. A ética do consumidor é a melhor contrapartida que pode haver para uma ética da empresa. À responsabilidade da empresa deve corresponder a responsabilidade do consumidor, que se deve preocupar em adoptar um consumo consciente e crítico face a políticas de contratação, higiene, segurança, transparência, honestidade no seio das empresas que produzem os bens ou fornecem os serviços que vai adquirir. De facto, muita da crítica ao capitalismo é uma crítica à democracia na medida em que é uma crítica à capacidade de escolha de cada indivíduo. A maturidade em todas as escolhas que efectuamos é decisiva para formatar os Estados em que vivemos, as sociedades em que nos movemos e os mercados que nos abastecem. Isto corresponde precisamente à prossecução do projecto iluminista numa época pós-convencional de, como Kant afirmou, sermos capazes de nos guiarmos por nós próprios, assumirmos o peso de sair da menoridade confortável a que o consumo automático nos restringe.

A ética do consumo não faz parte da ética empresarial – mas é a consequência lógica da mesma, uma exigência de justiça; movendo-nos no plano da ética e não do direito, a coação não pode ser jurídica. No entanto, a coacção moral num sujeito colectivo como é a empresa só pode dar-se através de algo tangível. O consumerismo (ético e ecológico) é a recompensa prática da empresa ética e a punição da empresa que se furta a ser responsável.

3 comentários:

GMaciel disse...

Igor, infelizmente, o mais natural é vermos as pessoas a sacudirem os braços, como se nada do que se passa tivesse a ver com elas ou, pior, tivessem um grão de culpa.

As reacções mais normais são o eterno apontar de dedos aos outros e a estapafúrdia desculpa de que as gerações vindouras terão a consciência que não tivemos. Não entendem, nem que enfies o argumento pela cabeça abaixo, que se nada começarmos a fazer, essas gerações simplesmente nada terão para preservar.

Como penso que este teu texto diz muito mais do que tenho lido por aí ou eu mesma possa escrever, estou a deixar a indicação do teu blogue. As pessoas têm de ler isto, a ver se acordam.

jocas grandes

Igor Caldeira disse...

Olá Graça,

Primeiro obrigado por me teres lembrado desta iniciativa. Já conhecia a acção mas já não me lembrava dela. Hoje quando fui ao Inflorescências lembrei-me logo. Iso é também uma autocrítica: sabendo eu que era uma iniciativa interessante, não a "agendei". Em todo o caso, o importante é irmos incorporando esta mentalidade: tudo aquilo que fazemos tem consequências. Estamos dispostos a aceitá-las ou não?

GMaciel disse...

"tudo aquilo que fazemos tem consequências. Estamos dispostos a aceitá-las ou não?"

Aí está o busílis da questão. O problema é que ninguém quer abrir mão do seu modos vivendi, o conforto e coisa e tal... pois claro!
Consequências? Responsabilidade? Isso são contas do rosário das gerações vindouras, nada tem a ver com quem vive hoje.
Irra, é exasperante, não é?
:(
jocas rep