sábado, 29 de março de 2008

Dialéctica anti-individualista em cinco momentos

[na sequência deste debate]

Momento reaccionário 1 - Conservadorismo e Absolutismo
A sociedade é um todo orgânico e por isso é superior às suas partes. O corpo não podem ter mais que uma cabeça. Dentro deste corpo há vários órgãos que agrupam os indivíduos; em função do órgão a que pertençam os indivíduos, assim deverão ser eles distinguidos. Eles não são todos iguais. Os Estados Sociais devem representar cada uma das ordens.

Momento revolucionário 1 - Socialismo
A sociedade é um todo orgânico e por isso é um todo superior às suas partes. Os indivíduos são todos iguais de direito e devem sê-lo também de facto. O sistema representativo burguês reproduz uma ficção atomista da sociedade e deve ser substituído por uma representação de classe. O que deve prevalecer é o interesse egoísta de cada classe ou de uma classe em particular.

Momento reaccionário 2 - Corporativismo e Fascismo
A sociedade é um todo orgânico e por isso é superior às suas partes. O Estado deve aglutinar todas as ordens, classes e demais forças sociais, dando-lhes a primazia representação política e fazendo-as trabalhar para o fortalecimento do Estado, expressão política do corpo social.

Momento revolucionário 2 - Multiculturalismo
A sociedade é uma soma de todos orgânicos superiores aos indivíduos que os compõem. Cada indivíduo está inserido num todo orgânico, ao qual, uma vez reconhecido pelo Estado o direito de autolegislação, o indivíduo se deve vergar. O Estado de Direito é uma ficção ocidentalista e eurocêntrica opressora das diversas culturas, não estando ao alcance de pessoas de origem muçulmana, por exemplo.

Momento reaccionário 3 - Fanatismos Religiosos e Racistas contemporâneos
A sociedade é uma terra de ninguém a conquistar, pela sua inferioridade moral, racial ou religiosa, por um grupo superior aos demais e superior no seu todo à soma dos indivíduos. A sociedade deve ceder crescentes privilégios (concessões negociadas pela prática ou ameaça de violência) até vergar-se finalmente à verdade absoluta que se pretende re-estabelecer (fundamentalismo católico da Europa Central, Opus Dei; racismo estatal à guisa do nazismo) ou estabelecer (fundamentalismo islâmico).


Não considero que tenhamos de estar presos a este ciclo. Quebrá-lo apenas exige defender coisas muito simples assentes em princípios muito sólidos que felizmente (ou infelizmente, dado o sangue que o processo tem exigido) a História nos tem permitido refinar. Estado de direito, laicismo, liberdade de expressão e associação, monopólio estatal da violência. Não é difícil encontrar o núcleo duro.

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