terça-feira, 11 de março de 2008

Meias vitórias e derrotas absolutas

As eleições espanholas de domingo ficaram, para mim, marcadas por não ter havido grandes vencedores, mas por ter havido grandes perdedores. Sucintamente

Do lado dos vencedores:
  1. O PSOE de Zapatero venceu as eleições, ficando longe no entanto da desejada maioria absoluta. Subiu face a 2004 e no Congresso (350 deputados) passou dos iniciais 164 deputados para 169 (a 7 portanto da maioria absoluta). No Senado (208 senadores) os resultados foram melhores, aumentando de 81 para 89 assentos, a que se soma a manutenção dos 12 senadores da coligação de esquerda na Catalunha.
  2. Rajoy e o PP perderam um lugar no Senado, mas aumentaram cinco no Congresso. Foi o suficiente para festejarem, mas o que é facto é que aqui não há medalhas de prata: ou se tem o governo, ou não se tem. E, tendo contado com a divina intervenção da Igreja, a sua derrota significa alguma coisa. Quanto mais não seja, para o próprio peso da Igreja na Espanha dos nossos dias.
  3. O laicismo é precisamente uma das bandeiras de Rosa Díez e da sua recém-criada Unión Progreso y Democracia, tendo a sua líder conseguido ser eleita, um feito assinalável num ambiente de hiper-bipartidarização, embora apenas um lugar seja limitador - em particular porque Zapatero precisa de sete lugares no Congresso e quatro no Senado, algo que só os nacionalistas de centro da Convergència i Unió podem dar. No entanto, os seus votos foram assinaláveis, tendo chegado aos 1,2%. Como a mesma afirma, Mi voto vale seis veces menos que mi vecino de escalera que vota PNV, sendo de supor que a UPyD vai aproveitar a eleição da deputada para endurecer o combate contra o actual sistema eleitoral, que privilegia os dois partidos principais e os partidos regionais.

Do lado dos perdedores,

  1. Se a UPyD sofreu na pele os efeitos do sistema eleitoral, não há partido que tenha mais experiência nesse campo que a Izquierda Unida, que apesar de ser o terceiro partido a nível nacional perdeu a maioria dos poucos (5) deputados que tinha, ficando reduzida a 2 lugares.
  2. Todos os partidos nacionalistas e regionalistas à excepção do BNG e do Nafarroa Bai perderam lugares. A Chunta Aragonecista e o Eusko Alkartasuna desapareceram do Congresso. Os de direita, CiU, PNV e a Coalición Canaria perderam, cada um, um deputado; o PNV perdeu 4 dos 6 senadores e a CC perdeu todos os 3 que tinha.
  3. À esquerda, o Bloque Nacionalista Galego deve ter suspirado de alívio, mas o mesmo não se pode dizer da Esquerra Republicana de Catalunya, que depois de uma grande vitória em 2004 foi reduzida de 8 para 3 deputados - e muito merecidamente. O seu comportamento inconsequente em relação ao PSOE acabou punido por um eleitorado progressista que logo à partida poderia ser seduzido por Zapatero, e que nestas condições em particular não desejaria dar qualquer hipótese ao ultraconservadorismo do PP.
  4. Derrota maior que a da ERC apenas poderá ser a da Igreja Católica, que se empenhou de forma impressionante no combate aos socialistas apelando de forma mais ou menos velada ao voto contra o PSOE, mesmo que agora venham dizer que rezam pelo bem comum. Porque o que à Igreja Católica preocupa não é nem nunca foi o bem comum mas o seu ascendente político, que depois destas eleições, pode-se concluir de forma clara, está em queda livre. Em Portugal já tínhamos visto o mesmo no referendo sobre o aborto e agora em Espanha repete-se a derrota confessionalista: os povos peninsulares já não são o que eram. Graças a deus?

Para todos os resultados da eleições espanholas, consultar o sítio oficial Elecciones2008.

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