quarta-feira, 19 de março de 2008

Uma pia, parte 2


O Bloco está obcecado pelo poder?
Não. O Bloco é composto por pessoas que vêm de vários percursos e que não vão discutir a sua pertença ideológica.

Excerto de entrevista a Ana Drago na revista Única deste fim de semana


A questão que surgirá mais à frente, tal como hoje surge ao PSD é que fazer com um amontoado de gente que se uniu em torno de umas cores e não em torno de algumas ideias. E, se é certo que o BE não é hoje poder, certamente que aspira a ele. Ou, pelo menos, alguns dos seus membros aspirarão, porque outros pretendem manter o seu carácter anti-sistémico. O simples facto de nem sequer sobre esta questão tão simples poder haver uma resposta igualmente simples a respeito dos objectivos do partido (e hoje já se designam partido, quando há uns anos era apenas movimento - ao menos nisso já estão todos de acordo) faz já prenunciar um futuro dilema cujo travo já provámos com a coligação pós-eleitoral em Lisboa.


Tal como o PSD foi uma amálgama de gente para atingir o poder, o BE é uma amálgama de gente para contestar o poder. Mas quando (e se) o BE atingir uma representatividade verdadeiramente alargada (por exemplo se atingisse os dois dígitos, como aponta Ana Drago) o que irá fazer com esses votos e esses assentos parlamentares? Explodirá em novos partidozecos? Abrir-se-á à negociação? Esquecerá os poucos princípios em que tem assentado e do purismo passará ao pragmatismo?



Estas incógnitas são, creio, o que pende sobre qualquer grupo político que recuse agir como um funâmbulo, equilibrando-se com dificuldade sobre um núcleo duro de princípios muito bem delineados. Quem recusar fazê-lo cairá sempre ou no pragmatismo dos maquiavéis ou no ascetismo dogmático.

Um ou outro são, diga-se, péssimas estratégias de sobrevivência.

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