sábado, 6 de outubro de 2007

Energia, Monopólios e Geopolítica: o braço longo de Putin

Excerto da entrevista a António Costa e Silva, presidente da Partex, no Jornal de Negócios de 3 de Outubro

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A partir de 2011 podem faltar à Europa cerca de 70000 milhões de metros cúbicos de gás por ano, o equivalente ao consumo total da Espanha e França. A Europa importa à Rússia 25% do gás. Daqui a 20, 25 anos, vai importar entre 70 e 75%. Países como a Grécia, Finlândia ou Hungria já dependem em mais de 80% do gás russo. Depois da queda do muro de Berlim, a Europa só passou a olhar para a Rússia. Mas pode sair deste problema, porque há outras alternativas, como a Líbia e o Egipto, países com grandes reservas. E a própria Argélia pode ter mais peso.


- Podemos ficar reféns da Rússia?
Sim, se nada for feito para alterar este percursos. E o problema é que as grandes companhias monopolistas, como as alemãs e as francesas, são os principais aliados da Gazprom e da Rússia, com grandes contratos de fornecimento.


- E depois acontecem situações como a do ano passado na Bielorrússia...
Em que tudo fica bloqueado. Para evitar isso, a Europa tem de criar uma estratégia com vários pilares. Primeiro, uma aliança estratégica com a Noruega, um país que não faz parte da UE, mas que tem grandes reservas de petróleo e gás e está numa luta surda com a Rússia por causa das reservas no mar de Barents, no círculo polar Ártico. Depois, é a aposta na bacia atlântica. Temos grandes pólos de gás na bacia atlântica: Nigéria, Guiné Equatorial, Tinidade e Tobago, Venezuela, Brasil ou Angola e este eixo só funciona em direcção aos EUA e não em direcção à Europa. É uma miopia política grave.


- Como deveria a Comissão Europeia (CE) reagir?
A CE está a tentar seguir uma política correcta, mas não comanda a Europa. Só com pensamento geopolítico unificado se poderá lidar com o problema da Rússia. O pacote energético em discussão, o "unbundling" [separação das redes de produção das de distribuição de gás e electricidade], é crucial, pois só separando redes e aumentando a concorrência é que a Europa se pode defender. Um estudo da CE mostra que entre 1998 e 2006, o preço da electriccidade aumentou cerca de 29% nos países da UE onde havia monopólios a dominar e não havia separação de redes. Nos países onde havia essa separação, só cresceu 6%. A Europa, em termos de energia está prisioneira dos grandes monopólios e da falta de concorrência do sector.

1 comentário:

Manela disse...

O Dr. António Costa Silva é uma das pessoas com mais interesse que tenho ouvido falar sobre problemas energéticos nos últimos tempos. É informado, culto, sabedor, tem visão geopolítica e tem bom senso. É pena que não tenha uma intervenção política no nosso país a bem da melhoria do panorama nacional.

Manuela Meneses