terça-feira, 30 de outubro de 2007

Sobre a necessidade da divindade

Uma das coisas que me despertou a atenção foi a alegada tendência para os seres humanos precisarem do sagrado; bom, se formos por aí então o Cristianismo tem realmente de ser todo revisto. Uma religião que desde o início não é mais que uma cambada de ressabiados em relação ao sexo - a coisa mais natural a seguir à fome, sede ou amor à vida - e que portanto se funda na repressão dos nossos instintos mais primários, dificilmente terá moral para falar em necessidade do sagrado.

Em boa verdade, o que era realmente bom é que homens como Dawkins não tivessem de se preocupar com os religiosos, ou seja, que os religiosos vivessem as suas fantasias sem incomodarem os outros. É porque a religião insiste em impôr-se aos outros que argumentações racionais em torno de um assunto não racionalizável (as divindades são irracionalidade pura, e provar a irracionalidade da falta de razão é tão degradante como irritante como ainda e mais prosaicamente um perfeito disparate) têm de surgir. É uma pena que mentes como Dawkins se tenham de ocupar de uma coisa tão óbvia.

O debate deveria centrar-se numa coisa mais simples, que é a de garantir em questões concretas princípios universalmente aceites como a laicidade do Estado ou a secularidade da sociedade - e não, por exemplo, a não-contaminação da ciência pela religião. Mais de dois séculos após o Iluminismo ainda estarmos à volta de algo tão básico é desesperante.

7 comentários:

Anónimo disse...

As Religiões são cada vez mais política, meu caro.
Vê como o Ratzinger, dito Bento, foi criar uma força "espiritual" de oposição ao Governo Zapatero.
Antes de as Cortes Espanholas aprovarem a lei das vítimas da Guerra Civil e do Franquismo que depois da guerra assassinou mais de 50 mil pessoas, entre as quais o avô de Zapatero, o Ratzinger resolve beatificar os padres, frades e freiras que foram mortos na Guerra Civil. Aqueles que diziam nas missas: "Bem-ditos os canhões que das brechas que abrem hão-de florescer as flores do Evangelho.
Ver o texto todo no blog
http://alutablog.blogs.sapo.pt

Cordiais Saudações
DD

Anónimo disse...

As religiões fazem política, meu caro.
Vê o Ratzinger como foi beatificar os religiosos espanhóis vitimados na Guerra Civil quando foi a Igreja que deu aos generais a base ideológica ou espiritual para agredirem a democracia e com isso provocarem a Guerra Civil.
O Ratzinger adiantou-se à maioria socialista de Zapatero que aprovou hoje um lei sobre as vítimas da Guerra Civil e do Franquismo.
Ver texto no blog: http://alutablog.blogs.sapo.pt

Saudações de
DD

Rouxinol disse...

Caramba!! Nos últimos tempos anda tudo a pensar no divino :P
É preciso deixar de ler o demente e largar a necessidade de rebater fantasias.

Cumprimentos

Anónimo disse...

A necessidade de uma justificação superior para a própria estupidez, mascarada de "religião", é uma constante da história humana. Não há religião no mundo que não se tenha tornado uma fraude em alguma altura. A necessidade do Divino é uma coisa bem diferente e tem a ver apenas com a consciência humana. Não confundamos as coisas. A laicidade e a secularidade são essenciais a um Estado. Mas é tão facil manipular quando se apela às "alminhas".

"A César o que é de César" JC

Anónimo disse...

Caro Igor:
O cristianismo é realmente uma cambada de ressabiados em relação ao sexo, mas não é só isso, e nem sequer é principalmente isso. O cristianismo é fundamentalmente, como várias das religiões que o precederam, uma explicação mitológica do mundo com fortíssimas incidências astrológicas. Está tudo muito bem documentado neste filme realizado para ser visto online e só tem a desvantagem de ter quase duas horas de duração.
Depois diz-me o que achaste.

Filipe Brás Almeida disse...

«É preciso (...) largar a necessidade de rebater fantasias.»

Isso seria um conselho útil desde que os proponentes de certas fantasias não agissem de modo que os incrédulos deviam escolher entre a conversão ou morte, nomeadamente os terroristas islâmicos.

E também enganam-se os apologistas mais acérrimos do cristianismo, que julgam que os seus dogmas - das quais poucos dos que se dizem crentes conhecem ou acreditam verdadeiramente (e é com esta moderação que a nossa civilização ocidental se tornou possível) - ficam a salvo da crítica racional e coerente, que será necessária para destruir ou pelo menos moderar às peripécias do Islão.

Eurydice disse...

A espiritualidade é uma dimensão respeitável do ser humano.
Do que eu duvido é da legitimidade das religiões organizadas em torno de uma ideia de poder. Daí que o verdadeiro defensor da espiritualidade tenha que, ao mesmo tempo, ser o verdadeiro defensor do estado laico.
Cada flor no seu galho: eis um bom princípio!... :)