terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Eterno retorno

Porque é que o seu marido morreu na URSS?
Ele não queria ir. Mas não quero falar nisso.
Não tinha confiança?
Não devia ter.
Poderia ter sido bem tratado em Luanda?
Não. Estava para ir lá uma médica inglesa, mas não chegou a tempo.
Quais eram as alternativas?
Há tantas alternativas no mundo! E Angola tinha dinheiro, pagava!
Quem decidiu que iria para a URSS?
Foi o médico dele - e com certeza que o partido também esteve de acordo. Mas não sei, são coisas em que não meti o nariz.
O médico dele era...
... na altura, era o dr. Eduardo dos Santos.
A senhora acompanhou-o até Moscovo?
Mas não adiantou nada - não fui para a sala de operações e mesmo que fosse não percebia nada.
Tem alguma reserva ou desconfiança?
Não posso dizer nada, mas o que sei é que, nesta época, uma pessoa não acordar de uma operação é um bocado esquisito...
Foi operado concretamente a quê?
Eles dizem que foi ao pâncreas. Se foi ou não...
Maria Eugénia Neto, viúva de Agostinho Neto, em entrevista ao Expresso

Passando por cima da vitimização excessiva de Agostinho Neto (que talvez não seja inocente na morte de partidários do não-alinhamento como o Comandante Gika) trago este excerto da entrevista porque a História repete-se de formas tão pouco imaginativas que, se não fossem trágicas, seriam aborrecidas. Agostinho Neto, líder do MPLA, formado em Portugal e (dentro do contexto) relativamente moderado no alinhamento com a URSS, terá sido morto na (e pela) própria União Soviética.

No mesmo dia, presidente e primeiro-ministro, enquanto a terceira figura do Estado timorense (o presidente do parlamento) se encontrava fora do país, foram ambos alvo de atentados.

Mais curioso, o presidente Ramos Horta não foi socorrido pela polícia das Nações Unidas, UNPOL, que se manteve a poucas centenas de metros.

Parece-me cada vez mais que o falhanço é apenas temporário: a acção, embora sem sucesso, é suficientemente clara. Alguém quer derrubar os líderes históricos timorenses.
Talvez alguém, podemos supor, que tenha as Nações Unidas na mão, tendo peso decisivo nas forças internacionais presentes em Timor. Talvez alguém, podemos supor, que tenha interesses no país que podem ser postos em causa por alguém com mais experiência e visão política. Talvez alguém, podemos supor, que em toda a questão timorense tenha sempre estado do outro lado da barricada em relação a Portugal, primeiro apoiando a Indonésia, e após a derrota da sua aliada, chegando ao cúmulo de mandar as forças portuguesas para o quartel.
Paremos com as suposições: um avião foi pedido à Austrália para transportar o presidente timorense para Darwin.
É preciso dizer mais alguma coisa, ou será que já está tudo visto?

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