segunda-feira, 10 de março de 2008

Arranjar sarna para os outros se coçarem

Há uns tempos escrevi um post sobre os PPR's estatais, que um Secretário de Estado afirmou que serviriam para concorrer com os planos privados. Passado algum tempo, emendou a mão e afirmou que não, não era nada disso, são duas situações absolutamente distintas, este plano complementar estatal e os PPR's privados.

Bom, e agora que começa a sua aplicação, confirma-se: ele tinha razão... para pior. A ideia de o Estado se pôr a concorrer com os privados era simplesmente mirabolante. Mas quando achamos que não é possível descer-se mais na indigência das políticas de Segurança Social, eis que algum Secretário de Estado se lembra de nos lembrar que se para subir só temos um santinho a ajudar (e é coxo), para descer (mesmo que politicamente em sentido figurado) todos os santos ajudam. É que este tal plano complementar e opcional tem a particularidade de funcionar na base do pay as you go e não numa perspectiva de individualização.

Ou seja, os montantes descontados não ficam afectos a cada indivíduo, mas permanecerão no "bolo" geral. Assim, quem morrer antes da idade de reforma não deixa nada aos herdeiros. Em contrapartida (sentem-se muito bem sentados nas vossas cadeiras) quem viver para lá do período no final do qual os montantes poupados terão sido totalmente reembolsados continuará a receber a mesma pensão até morrer. A ideia de base é a de que as pensões não pagas aos que morrerem mais depressa sirvam para pagar as pensões dos outros.

O final disto, está bom de ver, é que ao invés de se resolver um problema (mesmo que de forma estatalmente balofa e desastrada) está-se a arranjar mais um. Imaginemos que os tipos que descontarem para este tal plano complementar têm uma longevidade mais elevada que o expectável. Quem é que vai pagar o défice do plano? Pois, nós. Tenhamos ou não descontado (ou tampouco aceite) este plano idiota.


  • CORRECÇÃO: O Miguel Duarte apontou um importante erro no meu post, podendo a correcção ser lida aqui.

2 comentários:

GMaciel disse...

E o desastre será tão maior quanto a necessidade eventual do Estado ir buscar esse dinheiro para tapar buracos orçamentais, história já consagrada por Cavaco aquando o seu segundo mandato - com a Nelita F. Leite como secretária-de-estado do orçamento - no qual usou o dinheiro da segurança social, e repetida por Bagão Félix, desta feita indo buscar o fundo da Caixa Nacional de Pensões, nunca tendo sido reposto o dinheiro. Lembras-te???

Pois eu lembro-me muito bem e lamento que poucos tenham retido na memória esses feitos contabilísticos. Por isso mesmo os dois organismos estão nas lonas. Agora pagamos para salvar os ditos cujos da falência e vamos lá a ver se não haverá mais algum governo que volte a usar o mesmo estratagema.

Concluindo e como dizes muito bem: eles arranjam sarna para os outros , NÓS, se coçarem.

Igor Caldeira disse...

Essa é uma história que ainda vai dar que falar. Durante anos e anos e anos usou-se o dinheiro da SS para cobrir o d+efice orçamental, o que falando em bom português bem é um, como dizê-lo, bem, um roubo. No futuro vai ter de ser encontrada uma solução para repôr esse dinheiro.