terça-feira, 18 de março de 2008

Uma pia


Da mera comunhão de estômagos não resulta uma pátria, resulta uma pia.
Guerra Junqueiro


Sobre a crise no PSD, o que eu escrevi há não muito tempo atrás resume na perfeição o que eu penso sobre o partido. E o drama da presente crise é de que não se trata de uma crise cíclica, mas de uma crise estrutural. O problema é que o PSD não tem, como tem o PS, uma identidade ideológica que o una. Portanto, arredados do poder, distintos grupos de interesse podem facilmente aniquilar-se mutuamente para ver quem fica com as jóias da família, os restos de um passado glorioso em que o dinheiro entrava a rodos numa espiral crescente que aliava empresários e apparatchiks, generosamente alimentados por um Estado cujo peso aumentava galopantemente. Essa cavalgada foi parando lentamente, manifestação e carga policial após manifestação e carga policial. Depois da desilusão guterrista o caminho parecia preparado para uma nova década de glória. Mas algo tinha mudado no país, ou o próprio PSD estava já mais frágil. E ao fim de três anos e dois governos, parece que o PS está para ficar.

O problema não é o PSD eventualmente ser uma federação de espaços ideológicos distintos. É que o PSD nunca teve uma ideologia: sempre foi uma federação de interesses. E, parafraseando Guerra Junqueiro, da união de estômagos não resulta um partido: resulta uma pia. E é por o PSD nunca ter passado de uma pia que se está a afundar no esterco.

5 comentários:

GMaciel disse...

O que é muito mau para a democracia em Portugal, resta-me acrescentar.

Mas, Igor, se quisermos ser sinceros, o panorama político por terras lusas começa, todo ele, a parecer um aterro sanitário - pelo menos a meu ver, mas eu tenho um péssimo feitio.

;)

jocas grandes

Igor Caldeira disse...

Tens toda a razão, Graça. Eu por exemplo, agora já não sei, porque já mudei de morada. Mas se continuasse a morar em Setúbal, provavelmente iria votar PSD nas Autárquicas (o PS e o PCP já se revezaram vezes suficientes e já estão suficientemente gordos e corrompidos, é altura de dar lugar aos novos). Mas com o partido neste estado, será que teria coragem de o fazer?

A crise interna do PSD acaba por ser uma crise política nacional: uma crise de alternativas.

Bjos

GMaciel disse...

E agora tocaste num ponto nevrálgico, Igor, as autárquicas. Acreditas que estou como tu? Eu, que nunca votei PSD, vejo-me na contingência de o fazer nas próximas eleições para o poder local. E isto é mais estranho quando sabes que sempre defendi o executivo da Maria Emília, não é?

Mas como dizes e muito bem, os vícios e a corrupção acabam por minar e esta estória do Metro Sul do Tejo já vai com água pelas barbas. O problema, meu, teu e de quem tenha consciência, é precisamente os "entrefolhos" do maior partido da oposição.

Concluindo que o comício já vai longo, vivemos, deveras, um deserto de ideias e alternativas.

jocas

Igor Caldeira disse...

O PSD está perdido: com duas pessoas que votam à esquerda num distrito tradicionalmente de esquerda a predisporem-se a votar no partido, eles ficam neste estado. No meu caso então, eles conseguiram fazer um duplo disparate: é que ainda por cima queimaram o Fernando Negrão, que provavelmente ganharia as próximas autárquicas em Setúbal.

Há novas peripécias no MST?

GMaciel disse...

Há! Acreditas que o traçado alternativo, o que mais barato saía e menor conflito de tráfego trazia, depois de aceite pela secretária-de-estado dos transportes foi impugnado pela própria Câmara? Andámos feitos parvos em fóruns de opinião pública para depois a Maria Emília dar o dito pelo não dito????

Isto é muito resumido, se queres conhecer melhor os aspectos maquiavélicos do MST vai até ao:

http://triangulodaramalha.blogspot.com

Está lá tudo, com documentos oficiais, respostas oficiosas, tudo. Uma vergonha, é o mínimo que posso dizer sobre todo o processo.

jocas grandes