quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Portugal real

Um conjunto de psicólogos de Coimbra fez um estudo louvável, que quantifica os gastos médios com cada filho em dois tipos de agregado familiar. Até aqui, tudo óptimo.

O que não é muito normal é isto:
  • Numa família de classe média baixa, nos primeiros 25 anos de vida de um filho, os pais terão gasto cerca de 236,446 euros em fraldas, médicos, comida, roupa, desporto, livros, propinas e mensalidades escolares. Numa família de classe média alta, cada filho, até aos 25 anos, custará 678,875 euros. [...] A equipa imaginou duas famílias: uma com um rendimento mensal de mil e oitocentos euros e outra com um rendimento mensal de quatro mil duzentos e cinquenta euros.

O problema é, logo à partida, que quem acha que um agregado com um rendimento de 1800 euros (digamos, 900 euros para cada membro do casal) pertence à classe média-baixa não sabe certamente o país em que vive.

Vejamos valores de salário médio:

  • Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), referentes ao terceiro trimestre de 2007, o salário líquido mensal dos trabalhadores por conta de outrem, por sectores de actividade, é de 779 euros nos serviços, 636 euros na indústria, construção, energia e água, e 489 euros na agricultura, silvicultura e pesca.
  • Tendo em conta o escalão de rendimento salarial mensal líquido, os dados do INE referem que 41 por cento dos trabalhadores por conta de outrém integrava o escalão de rendimento salarial entre os 310 e os 600 euros.
    Com salários entre os 600 e os 900 euros situavam-se cerca de 25 por cento dos trabalhadores por conta de outrém, de acordo com os dados do terceiro trimestre do ano passado.
    Pelo contrário, apenas 0,5 por cento dos trabalhadores por conta de outrem integram o escalão de rendimento salarial mensal líquido de 3.000 ou mais euros.
    Também apenas 0,6 por cento dos trabalhadores por conta de outrém recebe entre 2.500 e 3.000 euros.

Portanto, ou bem que afirmamos que 66% dos portugueses pertencem à classe média-baixa e baixa (não sei onde categorizar os que aufiram menos de 301 euros) ou bem que o termo classe média é polissémico. Quanto a mim, e quanto ao INE, um salário líquido de 900 está acima da média nacional e deveria ser categorizado como classe média de pleno direito. Mas creio que os psicólogos de Coimbra devem ter horror só em pensar que alguém consiga viver com um tal salário mensal.
Em todo o caso, este é o país que temos; pode custar muito a gente como os jovens do CDS, ou Pedro Boucherie Mendes, ou ainda a estes psicólogos de Coimbra. Mas, quando reflectimos sobre o país e a sociedade, deveriamos ter mais em atenção os números reais e menos o meio que nos envolve.

1 comentário:

Anónimo disse...

A única forma de o INE calcular esses salários é pelos dados colocados nos Mapas para a Segurança Social ou nas Declarações do IRS.
Sucede que muitas empresas pagam subsídios de refeição que chegam aos cento e tal euros mensais e outros ainda.
De qualquer forma, 600 Euros ou 900 Euros não deixam de ser uma miséria, principalmente para uma família. Duas vezes isso é um apenas um pouco melhor.
Em Portugal, até os salários dos médicos que trabalham na Segurança Social ou nos Hospitais são uma miséria. Têm todos de trabalhar na privada a 80 Euros a consulta para viverem condignamente, o que não é possível para a maior parte dos trabalhadores.