Salários de topo 32 vezes mais altos
Portugal tem um dos maiores fossos entre administradores e funcionários
Portugal tem um dos maiores fossos entre administradores e funcionários
Sabia que Belmiro de Azevedo ganha 48 vezes mais do que um trabalhador da SONAE SGPS? E que Filipe Pinhal, do BCP, recebe 67 vezes mais do que um colaborador do banco? De acordo com um estudo da Mercer, o administrador português ganha, em média, 32 vezes mais do que o trabalhador da empresa que gere.
Pedro Queiróz Pereira, da Semapa, bate os recordes portugueses, ganhando 219 vezes mais do que um funcionário da empresa que administra. Estaria Cavaco Silva a pensar neste e noutros casos, quando no seu discurso de Novo Ano criticou os salários desproporcionados dos gestores?
Pedro Queiróz Pereira, da Semapa, bate os recordes portugueses, ganhando 219 vezes mais do que um funcionário da empresa que administra. Estaria Cavaco Silva a pensar neste e noutros casos, quando no seu discurso de Novo Ano criticou os salários desproporcionados dos gestores?
Se há ranking em que Portugal está na linha da frente é no da discrepância entre os rendimentos dos gestores e os rendimentos dos trabalhadores. O administrador português ganha, em média, 32 vezes mais do que o trabalhador da empresa que gere. Ultrapassa o administrador espanhol, que aufere 15 vezes mais do que o funcionário; ganha ao gestor britânico que tem um rendimento 14 vezes maior do que o trabalhador do Reino Unido. E leva uma grande vantagem sobre o administrador alemão que ganha 10 vezes mais do que o funcionário alemão.
Não sendo eu favorável a uma sociedade igualitarista em termos de salários (não só porque isso nunca existiu, como porque nunca existiria como, fundamentalmente, seria injusto que acontecesse), é para mim claro que esta diferença (duas a três vezes a diferença em outros países europeus) é imoral e não tem sequer qualquer tipo de fundamentação económica (ou seja, não é um produto da evolução de um mercado livre, mas é o resultado acumulado de uma sociedade oligárquica controlada por uma elite incompetente mas poderosa). Creio que é preciso ser muito cretino para supôr que o mercado britânico é menos livre que o português.
As diferenças assombrosas ao nível socio-económico não são sequer explicáveis pelo tecido económico ou pela falta de qualificação de mão-de-obra. É preciso ser muito imbecil para pretender que a mão-de-obra e o tecido económico são hoje mais débeis e menos capazes que há dez ou vinte anos.
O problema fundamental destas diferenças não está em atacar a igualdade económica: está em impedir a meritocracia. Para que a igualdade de oportunidades (o justo meio, o meio termo entre o igualitarismo da esquerda e o elitismo da direita) possa efectivamente existir tem de haver níveis mínimos de coesão social que permitam que todos os cidadãos acedam a um conjunto de bens essenciais para o aproveitamento e desenvolvimento das capacidades de cada um, não só no início, mas também a cada momento da vida.
Quando nos questionamos por que é que os portugueses trabalham tão bem no Luxemburgo ou por que é que em França são mais ricos que o cidadão médio, pensemos na estrutura básica de cada sociedade e nas oportunidades que cada uma dá para que cada indivíduo mostre o que vale. Creio que o misterioso atraso português ficará explicado.
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