sábado, 26 de maio de 2007

Considerações sobre a "Questão Liberal" em Portugal (cont.)

Perigosa porque entrega, no limite, a extremistas como Manuel Monteiro a ideologia fundadora da Modernidade.

Queria só fundamentar melhor esta frase. Considero o liberalismo a ideologia fundadora da modernidade e dos dois campos políticos que nela se desenvolveram, esquerda e direita. A direita foi buscar ao liberalismo basicamente a defesa do capitalismo. A esquerda foi buscar uma pulsão revolucionário que tende a ver a liberdade como um conceito mais difuso (e nem sempre compreensível - não percebo bem o que é que um tipo do PCP entende por "liberdade"). Na prática, o liberalismo económico foi-se cristalizando na direita e os liberalismos social e moral (costumes) e religioso (laicismo e liberdade de consciência) na esquerda. Quero apenas dizer que com certeza esta é uma visão que peca por excessivamente simples, mas que não está longe de corresponder à realidade. O que me parece bastante interessante é o facto de as eleições britânicas e francesas terem dado uma machadada na clássica tendência europeia (pois do outro lado do Atlântico "liberal" significa justamente o contrário) para colar o liberalismo à direita. O LibDem provavelmente está mais à esquerda que o New Labour e Bayrou deixou perceber que votaria Ségolène. E com isto, o liberalismo alcançou valores que há algum tempo não via no Reino Unido e valores nunca vistos (pelo menos desde a IV República) em França. É interessante que num e noutro país a maior tendência para a revitalização do sistema político-partidário tenha surgido precisamente no centro, e não nas franjas. Normalmente, grandes movimentos que reorganizem pelo menos parcialmente os sistemas partidários vêm das margens, que depois podem ou não ser assimilados pelo sistema. Neste caso, a vontade dos dois eleitorados de renovação e de re-oxigenação não veio pela defesa de algo completamente distinto do sistema existente (por exemplo, um Le Pen), pela rejeição da liberdade, mas pela defesa do sistema a partir de dentro, votando em partidos e candidatos que de certa forma reconciliem a liberdade consigo própria.

Haja mais casos destes!

1 comentário:

Anónimo disse...

Aprendi muito