sexta-feira, 14 de setembro de 2007

A "cultura" como cavalo de Tróia do confessionalismo

Desenvolveu-se aqui uma pequena discussão a respeito da questão da laicidade do Estado.

Posições:

--- No entanto, o Estado, não deixando de ser Laico, não pode negar as suas origens. Em Portugal essas são, claramente, católicas. Ou seja, o Estado de cada país tem uma moralidade que advém da cultura do mesmo. No nosso caso, por exemplo, os juízos de valor que estão implícitos naquilo que se entende por correcto na conduta do Estado e que passa, por exemplo, pela legislação, são resultado da nossa história.

José Maria Pimentel

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--- O argumento da cultura é usado frequentemente para transformar o laicismo num confessionalismo envergonhado, isto é, é uma forma do confessionalismo se impôr de forma arrevesada, dado que não encontra legitimação social. Como Bayrou disse e eu citei, não há qualquer necessidade de o Estado reconhecer coisa nenhuma a esse nível, oficial nem oficiosamente.De facto, se há partes da nossa cultura que se construíram a partir do catolicismo, outras partes há (desde a democracia política até ao lugar das mulheres na sociedade) que se fizeram não apenas paralelamente ao catolicismo, mas em feroz, brutal, sangrenta e total oposição ao catolicismo.

Igor Caldeira

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--- Esses princípios antecedem em muito o Cristianismo. O Cristianismo outras religiões pegaram neles obviamente, mas o "não roubar", ou "não matar" não é um princípio ao qual qualquer religião possa clamar como exclusivamente seu.
Aliás, no caso do "não matar", nem se pode dizer que seja um valor Cristão. Lembro-me das práticas da Inquisição, ou de que nos EUA muitos cristãos, como é o caso de Bush, são favoráveis à pena de morte.
Além disso, ao Estado não compete respeitar a cultura tradicional de um povo, ao Estado compete assegurar que é possível continuar a viver em sociedade (ex: proteger a propriedade privada) e em liberdade.

Miguel Duarte

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