terça-feira, 31 de julho de 2007
Sobre os Impostos
Cuba Libre
Ser aldrabão compensa
Apoio ao TEDH no caso João Mouta
Para o MLS, a decisão do TEDH é muito importante na medida em que este cria jurisprudência nesta matéria, evitando que casos de homofobia como este voltem a ocorrer na União Europeia.
[...]
Para o MLS, esta decisão do TEDH exibe mais uma vez os benefícios de Portugal estar integrado na União Europeia, em termos de garantia dos direitos dos cidadãos portugueses e de obrigar ao avanço da mentalidade e da prática, infelizmente ainda bastante retrógradas, de muitos juízes portugueses.
100% apoiado.
Assembleia Constituinte Europeia
Piadas contemporâneas
Vejamos os magníficos comentários de Ricardo Arroja:
essas sociedades [as islâmicas] não são exemplo nenhum em matéria de direitos civis, direitos humanos, tolerância democrática e civico-religiosa, progresso económico, por aí fora. Posto isto, eu continuo a acreditar que neste mundo cão em que vivemos hoje, um mundo de "não olhes para o que digo, olha para o que faço", a sociedade que apesar de tudo permanece a meu ver como o melhor exemplo de equilíbrio é a britânica. Que em substância, creio, não pode ser considerada como confessional.
se bem recordo as minhas lições de História, o mundo ocidental, em particular os EUA, tem de voltar a ser Esparta...temos de vencer uma Atenas corrupta que, a cada dia que passa, destroi os ideais que fizeram do mundo ocidental um exemplo de integridade moral...perdida quando, de forma irresponsável e totalmente inimputável (!!??!!), declarou guerra pre-emptiva ao Iraque
- Primeiro, defendemos os direitos civis e políticos.
Já ninguém se recorda da "Velha Europa" (frouxa, cobarde, decadente e contra a invasão) e da "Nova Europa" (viril, viva, corajosa).
Cada tiro cada melro.
Literatura, Leitura e Política
Comparar obras literárias com livros políticos? Isso faz lembrar a PIDE, que levava "A Capital" do Eça das bibliotecas dos liceus porque confundiam com "O Capital" de Marx.
Esta não saíu nada bem. Por vários motivos. Primeiro, porque está visto que a afirmação é descabida. Segundo, porque o autor da frase ou não lê romances, ou então deve ter muito trabalho a procurar apenas literatura de anarco-capitalistas, o que não só deve ser tarefa muito difícil como (se houver algum escritor anarco-capitalista) deve ser uma seca tremenda. Pior que o Saramago. Já estou a imaginar.
O homem aproximou-se da mulher e tentou roubar-lhe um beijo, tal qual o vil Estado burocrático-socialista rouba impunemente os rendimentos dos indivíduos. A mulher resistia e tentava desviar os seus lábios para o off-shore do amor.
Sim, isto pode não estar perfeito - se calhar, deveria inverter os papéis, porque isto de apresentar a mulher como um ser espezinhado pelo machismo deve ser pecado à luz do anarco-capitalismo, assim uma espécie de desvio feministo-socialista. Mas creio que a ideia fica.
Sendo eu uma pessoa que todos os dias pensa e lê sobre política, há mais vida para além dela. E mesmo que não houvesse, não é preciso estar confinado nas nossas leituras aos nossos quadrantes ideológicos. Aliás a única forma de termos um discurso coerente e racional é ler o máximo de perspectivas distintas. Das duas uma, ou mudamos de opinião porque concluímos que estávamos errados, ou mantemos a nossa opinião, mas desta feita mais sólida e mais nítida - fortalecemos a nossa segurança nas nossas crenças e ganhamos argumentos que antes não tínhamos.
Todos os que se resumem às leituras oficiais ficam iguais aos camaradas do Saramago. Com a desvantagem face a este último de mal saberem falar, quanto mais escreverem romances.
segunda-feira, 30 de julho de 2007
Pedro Arroja é um admirador dos Países Nórdicos - será que de fascista passou a social-democrata?
Tornar o estado confessional daria privilégios inaceitáveis à Igreja Católica. Como o referendo ao aborto mostrou, mesmo a maioria dos católicos está em desacordo com os princípios defendidos pela Igreja. Dar a esta instituição um estatuto político era por via antidemocrática instituir-se uma tutela ideológica do Estado. Quanto à comparação com a Dinamarca e outros países nórdicos, já alguém se questionou por que é que os países do Norte são protestantes e confessionais, e os dos sul católicos e laicos? Pois é. É que com estados confessionais de fachada mas progressistas de facto, convive-se bem. Não se convive bem é com anões intelectuais como os católicos, fonte de inúmeras ditaduras e atropelos à liberdade; para tentar controlá-los, foi preciso pôr na lei a separação, quando os do Norte tinham-na posto nos actos e de facto.
domingo, 29 de julho de 2007
Kant vê sempre mais longe - Sobre a moralidade e a obediência a um deus
A Crise no PSD é maior do que o que se pensava
sábado, 28 de julho de 2007
Afinal, o que fez por nós a Europa?
Aproveito também para divulgar o Movimento Europeu e o sítio O que faz a Europa.
sexta-feira, 27 de julho de 2007
Coincidências
a propósito de Madeira, a Fernanda Câncio dá-nos hoje, no DN, um belo retrato do Momo
O texto em causa termina assim:
Ele ganha eleições, claro. Todas, e com maiorias absolutas. Mas, segundo ouvi dizer, e dito por gente que o elogia e com ele faz pactos, isso não só não faz dele um democrata como, parece, é péssimo para a democracia. A não ser que tenha dias. Ou geografias.
Ora, segundo eu li nos dois posts do WomenageATrois já referidos, a democracia é o governo da maioria. Sem mais, porque não podemos "ajustá-la à nossa bitola". A maioria vota no PPD-PSD e está feliz da vida com AJJ. E AJJ faz o que lhe dá na gana. Não é isso a democracia? Ou agora já dá jeito ajustá-la a alguma bitola?
Democracia e Relativismo Moral
Não vingados, mas salvos
Si tu étais vraiment le fils de cet homme,
Tu l'aurais tué!
Aujourd'hui, j'ai enfin la réponse:
Le sang du meurtrier s'est apaisé en côtoyant le mien.
Aujourd'hui, ma vie, que je croyais perdue,
Est enfin retrouvée.
Nous ne sommes pas vengés, Yonas,
Mais nous sommes sauvés.
Viens, approche-toi, entoure-moi de tes bras!
J'ai besoin de reposer ma tête un instant
Sur une épaule d'homme.
Amin Maalouf, Adriana Mater, final do último acto
quinta-feira, 26 de julho de 2007
O Totalitarismo está aí
Os deputados europeus também criticaram a notícia de que Frattini estaria planejando adotar o mesmo esquema de intercâmbio de dados de passageiros aéreos entre os 27 países da UE.
Fukuyama: A Débâcle Conservadora e o Idealismo Progressista
Em todo o caso, o que interessa é que Fukuyama cedeu à evidência: a força bruta não resolve em si mesma nada e, bem pelo contrário, pode ser completamente contraproducente. O que será pois necessário fazer, será mudar de paradigma de política internacional. Quanto aos Estados Unidos, isso será um problema fundamentalmente deles. Agora, que deve a UE fazer? Entendo que há simultaneamente três coisas que se pode fazer, e nenhuma delas é propriamente inovadora. Há que utilizar o poder infra-estrutural, há que garantir a capacidade de utilizar o poder coercivo e há que não cometer determinados actos. E sim, isso também é uma forma de exercer poder.
Dentro do poder infraestrutural (soft power) a União Europeia vai ter de ser capaz de abrir os cordões à bolsa. Os países ACP - aqueles com os quais a Europa tem maior relação entre os países sub e em desenvolvimento - e em particular os países africanos deverão ser alvo de uma política mais criteriosa e coordenada de ajudas ao desenvolvimento. Há algumas coisas que terão de ser feitas - melhoria de transportes e comunicações, sem as quais a economia desses países continuará estrangulada - mas muito mais importante que isso há o próprio cerne dos grandes confrontos políticos actuais. Os confrontos não se dão hoje entre exércitos nem tampouco entre economias nacionais. É na cultura que se joga tudo. Quantas madrassas - que hoje no Sahel estão a formar em fornadas de centenas e milhares de crianças os terroristas de amanhã - seriam fechadas se a Europa financiasse a construção de escolas e mantivesse parte dos custos com os professores? O mundo islâmico tem uma política muito clara a respeito de África, tal como a China. Ambos estão a sedimentar o seu poder em países em que tudo está por fazer e que a qualquer momento poderão pender para qualquer potência. Esta é, para mim, a primeira trave mestra de um idealismo progressista. Que, como se pode ver, não tem nada de utópico e muito de realista.
Quanto ao poder coercivo (hard power, neste caso poder bélico) ele deve servir essencialmente não para ser utilizado sempre que um governante extravagante chega ao poder, mas para garantir que determinados procedimentos internacionais são respeitados. Isto implica que este poder possa ser exercido, e até tenha de o ser em determinados casos - mas apenas em último recurso. Fukuyama, a respeito dos Estados Unidos, pretende dizer isso mesmo. No caso europeu, no entanto, teríamos de pôr a lógica um pouco ao contrário: não ter medo de, em casos extremos, usar o poder bélico. Foi a cobardia europeia que levou a mais de um massacre na Bósnia (pode alguém mentalmente são enviar capacetes azuis desarmados ou com ordens para não disparar?). Em todo o caso,o que deve ser retido é que o poder bélico deve ser um meio de garantia do direito internacional e não um fim em si.
Por fim, a omissão é a minha parte favorita. Digo favorita apenas porque é aquela que é menos referida. De facto, pode-se fazer imensas intervenções humanitárias. Pode-se construir centenas de escolas. Se a economia dos países subdesenvolvidos não puder arrancar, nada feito. A maior ajuda que a Europa (e os Estados Unidos) poderia dar, e simultaneamente a mais benéfica de forma imediata para os cidadãos europeus seria pôr um fim ao regabofe chamado PAC, deixar de subsidiar os produtos agrícolas, deixar que os agricultores europeus (a maior parte dos quais está longe de ser pobrezinha) mostrem o que valem e se conseguem ou não ser competitivos, e deixar entrar os produtos agrícolas dos países ACP. Enquanto isto não acontecer, não haverá ajudas internacionais que valham ao Terceiro Mundo, que continuará a endividar-se e a ser governado por elites cleptocráticas sempre amigas dos mais obscuros interesses políticos (ocidentais e não só).
quarta-feira, 25 de julho de 2007
Eles sabem tudo, eles sabem tudo, eles sabem tudo e não lêem nada - Parte III
Não compreendo como é que alguém se pode dizer simultaneamente liberal e tradicionalista, quando o liberalismo é a negação da tradição e a afirmação do indivíduo - mas esse é o drama de sermos portugueses. O único país em que ser liberal é o contrário de ser liberal.
O melhor conselho a dar é que deixem de ler sempre e apenas dois ou três autores sempre com as mesmas inclinações, diversificando as leituras, introduzando o conflito em si próprios e tentarem raciocinar sobre o conhecimento absorvido. Por fim, deveria ser suficiente ir ver como se comporta a esmagadora maioria dos partidos liberais e o que eles defendem. Asseguro que muito poucos porão o peso da tradição à frente da liberdade do indivíduo.
Eles sabem tudo, eles sabem tudo, eles sabem tudo e não lêem nada - Parte II
A democracia é a regra da maioria. Isto não significa que a democracia seja sempre o melhor caminho nem o objectivo final. O objectivo final deve ser um conjunto de direitos e de liberdades de que a democracia tem demonstrado ser normalmente a melhor defesa. Normalmente não significa sempre.
Prova disso é, para dar um exemplo muito recente, o de Saddam. O motivo principal pelo qual estive contra a invasão do Iraque foi o facto de a queda de Saddam levar inevitavelmente ou à anarquia ou à teocracia. Sem grande prazer confirma-se que eu estava certo. Curiosamente, entre os conservadores (que em Portugal se dizem "liberais"), que tanto trabalho têm em afirmar que a democracia não é o objectivo final e que depois se dedicam a relativizar o conceito de democracia o que eu disse a respeito do Iraque nem lhes passou pela cabeça. É o problema dos automatismos. Os comunistas tinham o mesmo problema em relação à URSS.
Para mim, a democracia é apenas um mecanismo quase vazio de valores. Historicamente, foi preenchido com valores como o do pluralismo ou da tolerância, mas isso são representações às quais não chamarei etnocêntricas pois sou um humanista e um universalista, mas são pelo menos fruto de um período particular de um conjunto particular de países. No entanto, foi o voto democrático que levou ao poder Hitler, McCarthy e esbirros, Chávez e dezenas de outros tiranos e tiranetes. A democracia pressupõe valores como o respeito da oposição, mas pouco mais. E mesmo isso nem sempre é respeitado. De modo que eu nunca ponho a defesa da democracia em primeiro, mas em segundo lugar. Em primeiro, está a liberdade. Ora, justamente, no Iraque era eu da opinião que Saddam defendia melhor a liberdade de grupos como minorias religiosas ou as mulheres, devido ao passado laicista do Bahas; pelo contrário, a queda de Saddam levaria ao caos ou à eleição de um governo antidemocrático fundado na religião e na tradição, portanto, contra a liberdade dos indivíduos. Quanto às intenções dos neocons, os seus interesses económicos ainda foram os menos estúpidos. O idealismo conservador, ao contrário do que sucedeu com Reagan, falhou redondamente.
Eles sabem tudo, eles sabem tudo, eles sabem tudo e não lêem nada - Parte I
De resto, Robespierre fez questão de dizer que o que ele defendia nada tinha que ver com Rousseau (o que só abona em favor deste último), ao afirmar que é escusado procurar noslivros dos escritores políticos que nada viram da revolução francesa qualquer princípio, pois aquela seria uma realidade absolutamente nova. Se Robespierre admirava Rousseau? Sim. Mas, tal como Robespierre, também homens como Constant o admiravam. Rousseau foi um dos últimos homens de Saber, ou seja, um dos últimos a tocar todos os principais ramos do saber. O último, como o assumidamente rousseauniano Allan Bloom afirma, terá sido Goethe. Só um mentecapto pode não gostar de Rousseau - mesmo que não concordemos com ele.
Já agora, deixo a seguinte citação de Benjamin Constant: Evitarei decerto a companhia dos detractores de um grande homem [Rousseau]. Quando, por acaso, pareço concordar com eles em algum ponto, desconfio de mim mesmo; e, para consolar-me de haver aparentemente compartilhado a sua opinião [...] quero renegar e repudiar o mais possível esses pretensos colaboradores.
segunda-feira, 23 de julho de 2007
Adeus, Cavaco Paintshop, olá (de novo) Cavaquismo
A imoralidade dos donos da moralidade
Espirituais, tudo bem. Espirituais pode significar várias coisas. Simplesmente, espirituais torna religiosas ou inúteis ou manifestação daquele princípio não só idiota em si como insultuoso.
Por partes:
- Inútil, porque engloba a religião, ultrapassando-a no entanto. Eu posso guiar-me por princípios espirituais e ser ateu. Aliás, a percentagem de ateus que têm valores espirituais firmes deve ser exponencialmente superior à dos crentes. Isto tem que ver com a alegada pelo próprio Lord Acton superioridade das minorias. Ao passo que a maioria das pessoas se afirma crente nalguma religião, fá-lo sobretudo por adesão irreflectida e por aquilo que eu costuumo chamar falta de livros. Não quer dizer que se lesse e pensasse muito, não chegasse a conclusões semelhantes e assim permanecesse religiosa. Significa que nunca pensou no assunto de forma profunda. Pelo contrário, a maior parte dos ateus lê e reflecte sobre o assunto - razão pela qual os ateus são tão criticados pelos crentes - e quase sempre adere a correntes filosóficas de algum tipo, nomeadamente àquelas que lhe parecem melhor fundamentar o seu ateísmo. Isto incute-lhes uma moralidade instruída e inteligente. Não estou a dizer que entre os crentes não haja gente assim. Digo que, ao passo que entre os ateus essa é a regra, entre os crentes essa é a excepção.
- Idiota se se conceber que a espiritualidade só pode ser religiosa. Não só (pelo que acabei de dizer) isto é tremendamente falso, como torna (se for esta a opinião) por sua vez, a palavra espirituais inútil e mera verborreia.
- Por fim, insultuoso porque se se entender que só as pessoas que tenham alguma crença religiosa têm autocontrole, capacidade de ser livres e de respeitar a liberdade alheia, não só se põe em causa boa parte da História da Humanidade (em que a religião sempre foi fonte de opressão e de violência) como significa dizer que os ateus e os agnósticos são seres imorais ou (disparate dos disparates, dado que não há ninguém que o seja) amorais.
sexta-feira, 20 de julho de 2007
Campanha Europeia pelo Referendo Europeu
Assinem a petição.
Libertarianismo e Liberalismo parte II e 1/2 - Hegelianismo Moral de Esquerda e de Direita
As Reflexões de Burke são feitas sob a pressão das críticas que os britânicos simpatizantes da Revolução Francesa fazem à Constituição histórica da Inglaterra. Desta forma, este texto não pode ser entendido apenas como um escrito académico, mas também como um escrito de combate político, de resposta aos ataques dos sectores radicais. Um dos temas principais do debate entre Burke, por um lado e Paine e Price por outro foi a interpretação da Revolução francesa face à Glourious Revolution. Se os segundos afirmam que a transformação que a França conheceu no final do século XVIII é um desenvolvimento e um aprofundamento – uma consequência natural – da revolução britânica de há um século atrás, Edmund Burke contrapôs a sua visão, centrada na defesa de uma diferença distintiva fundamental: é que a revolução de 1688 visou restaurar uma situação anterior; a revolução que estala em 1789, pelo contrário, teve como objectivo criar uma nova ordem, aniquilando a ordem construída pelos homens ao longo da História. Há, por conseguinte, uma oposição frontal entre um paradigma racionalista e progressista e um paradigma empirista e conservador.
Hegel defendeu, contra Kant (e à semelhança de Burke) a eticidade, ou seja, a concretização da ética nos valores e princípios próprios de cada comunidade. Este conceito de eticidade não só se adapta ao pensamento conservador como também, como é sobejamente conhecido, o hegelianismo influenciou o pensamento de Marx e por via deste, boa parte das modernas correntes socialistas. Quanto as Direitas atacam o multiculturalismo de Esquerda não o fazem por discordância com o sentido profundo do multiculturalismo, mas sim pelos seus opositores políticos pretenderem universalizar o respeito pelas diversas manifestações culturais. Por seu lado, as Esquerdas confundem-se nas suas tendências humanistas e na sua defesa do universalismo. No fim, ao invés de defenderem o universalismo racional, defendem o pluralismo de subjectividades contraditórias entre si e, bastante mais grave, contraditórias muitas vezes com os ideais que deveriam mover as Esquerdas.
É por este motivo, de resto, pela sua relativa imunidade face ao pensamento hegeliano que o liberalismo consegue ser o melhor defensor da moralidade kantiana, ou seja, do pensamento crítico-abstracto que pugna pela obrigatoriedade do respeito por mínimos éticos. Com isto não quero escamotear o contributo do socialismo e do conservadorismo democráticos na defesa dos Direitos Humanos, mas vivemos em tempos interessantes. Tempos interessantes são aqueles que são agradáveis de analisar e desesperantes para se viver. Ora, é interessante que Ayaan Ali tenha sido tratada como foi pelos Trabalhistas e acolhida pelos Liberais.
O que é um Técnico
- Em primeiro lugar, o que é um técnico?
- Em segundo lugar, quem disse que os técnicos são sábios?
- Em terceiro lugar, quem disse que a política tem que ver apenas com técnica e não com valores?
- Se aceitarmos que a política também tem que ver com valores, quem disse que os técnicos são as pessoas mais indicadas para definir os valores prioritários?
Contra o fascismo religioso
Autobiografia da somali Ayaan Hirsi Ali
Acrescento também um filme da Fox, que no entanto por ser demasiado americano (com considerações de moralismo barato por Ayaan ser ateia) tem de ser complementado com uma entrevista decente (ou seja, francesa).
Por fim, merece destaque o blog http://ayaanhirsiali.web-log.nl/ayaanhirsiali/english/index.html. Excerto:
In 2002, in the wake of the September 11 terror attacks, Hirsi Ali, having renounced Islam, was working on immigration issues for a Labour-aligned think tank. She had left a lucrative corporate job with the drug manufacturer GlaxoSmithKline, such was her commitment to progressive values.
In a policy paper, she urged the closure of The Netherlands’ 41 Islamic schools — many of which were indoctrinating young Muslims with hatred towards the society that had given them refuge — and the reform of Article 23 of the Dutch Constitution, which endorses the multicultural principle of ‘ integration with maintenance of one's own identity.’ As The Guardian reported, ‘Jaws hit the table. The reaction she got indicated how badly she had started trampling on taboos.’
Throughout the 1980s and 1990s, Labour and other Parties of the Left had competed for support among Muslim communities, including some of the most reactionary. A young Labour official, of Moroccan background, had even endorsed the banning of Aisha, a critical play about the nine-year-old wife of the Prophet Mohammed.
By contrast, Hirsi Ali, a young woman with impeccable life credentials — including working as a social worker among Muslim women who had been brutalised within their officially mandated ‘distinct communities’ — became too controversial and problematic for Labour. ‘I called it the paradox of the Left,’ she told The Guardian. ‘On the one hand they support ideals of equality and emancipation, but in this case they do nothing about it; they even facilitate the oppression.’
quinta-feira, 19 de julho de 2007
Posição do Parlamento Europeu a respeito das Excepções
the European Chamber expressed its 'concern' as to why the Member States 'can invoke the exception of the application of the European Charter of Fundamental Rights in their territories'. This statement clealry refers to the United Kingdom and Poland
Para além da relevância que tem o facto de o PE poder vir a ser uma âncora contra o enterrar dos Direitos Fundamentais dos europeus, é também de realçar o ataque que lhe está a ser feito por instituições com bastante menos (no caso dos governos nacionais) ou nenhuma (no caso da Comissão) legitimidade democrática.
Publicação no CaféBabel
quarta-feira, 18 de julho de 2007
A Resposta de Anna Colombo
Agora, o que é necessário é que a UE de facto cumpra estes objectivos: combata o dumping e evite a barbárie. O novo tratado não garante nem uma nem outra coisa. Num extremo, Sarkozy quer pôr a concorrência na gaveta; no outro, direitos sociais básicos estão longe de ser garantidos.
No entanto, pior que não garantir um mercado aberto mas guiado pela satisfação das necessidades humanas e que por isso seja livre sem esmagar os indivíduos é a possibilidade de nem sequer a dignidade intrínseca do indivíduo ser garantida. A excepção moral polaca, a ser incluída no novo tratado, será o prego que faltava no caixão da legitimidade da UE.
Aderindo à corrente de e-mails que partiu da blogosfera, enviei o texto transcrito para as diversas entidades. Obtive (tal como outros que procederam ao envio do e-mail) célere resposta do grupo Socialista, em que se afirma que In this respect we fully share your concerns about the derogation granted to Poland in the field of fundamental rights. We do believe indeed that this derogation may lead to double standards in Europe, and this in a policy area at the very heart of our ethical values.Therefore I can ensure you that our Group will carefully follow the work of the IGC, especially with regard to this matter.
Esperemos que a ALDE siga o mesmo exemplo. Quem quer que aceite a excepção moral polaca estará a trair de forma directa e insuperável tudo o que vale a pena na Europa.
terça-feira, 17 de julho de 2007
Contra a Excepção Moral Polaca
Resultados das Intercalares
Preocupantes foram os resultados do PNR. Ainda não vi ninguém a reflectir sobre os seus resultados, mas a estratégia de visibilidade mediática do partido fascista está a dar frutos. De 798 passou para 1501 votos, de 0,28% para 0,77%. Exceptuando o MPT e o PPM que não se apresentaram nas últimas eleições, o PNR foi dos partidos que concorreram em 2005 o que teve, de longe, a maior subida, tanto em número absoluto de votos (703) como em percentagem relativa (+175%). Por regra sou defensor da tese do cordão sanitário - omiti-los para que percam relevância. Mas se a tendência de crescimento se confirmar, alguma coisa terá de ser feita.
sexta-feira, 6 de julho de 2007
quinta-feira, 5 de julho de 2007
Libertarianismo e Liberalismo - II - Tradição ou Modernidade
Libertarianismo e Liberalismo - I - O libertarianismo moderado de David Gauthier
- As much Land as a Man Tills, Plants, Improves, Cultivates, and can use the Product of, so much is his Property. […] God, when he gave the World in common to all Mankind, commanded Man also to labour, and the penury of his Condition required it of him. […] Nor was this appropriation of any parcel of Land, by improving it, any prejudice to any other Man, since there was still enough, and as good, left; and more than the yet unprovided could use.
John Locke, Two Treatises of Government, An Essay Concerning the True Original, Extent and End of Civil Government, capítulo V, Of Property
Gauthier socorre-se da interpretação que Nozick dá da cláusula de Locke e segundo a qual esta tem como objectivo não piorar a condição de ninguém – ou seja, que pelo facto de aceitar viver em sociedade, ninguém seja relegado para uma situação pior que a que tinha no estado de natureza. Caso contrário, e numa interpretação literal de Locke, poder-se-ía afirmar que a apropriação do que quer que fosse, seria proibida. Por outro lado, esta proibição de piorar o estado de alguém também tem de ter uma limitação; defendendo Locke a autopreservação, Gauthier completa a cláusula: a condição de não piorar a condição de ninguém face à natureza é limitada aos casos em que tal não implique um piorar da minha própria condição.
A cláusula lockeana consiste numa limitação ao exercício das liberdades; no entanto, ela não impede ou limita essas liberdades em si (o que seria inaceitável para um libertário). A diferença fundamental está em que, ao contrário do que sucede com Hobbes, em que a liberdade natural consiste em utilizar o nosso corpo e o corpo dos outros como nos aprouver, aqui a liberdade limita-se à utilização do nosso corpo. Assim, por um lado confirma-se o direito de cada um a utilizar o seu corpo e os seus poderes e por outro garante-se o direito exclusivo de cada um a utilizar o seu corpo sem ser coagido por outrem. Geram-se desta forma, ao invés de liberdades ilimitadas, direitos e deveres exclusivos.
O que Gauthier vem afirmar, é que sendo certo que ninguém merece as faculdades com que nasceu, ainda assim as capacidades naturais, o corpo e os seus poderes, são a única coisa que cada um traz para a sociedade. Desta forma, não podem estar excluídas da determinação do que cada um pretende obter da sociedade. Um princípio só pode definir imparcialmente o que cada um pode beneficiar com a sociedade se em contrapartida se souber o que cada um pode obter sem a sociedade. Não há sequer, nem pode haver, qualquer princípio de redistribuição, pois a única compensação que pode haver é a compensação pela partilha dos bens comuns (materiais), pois aí há uma distribuição provocada. Pelo contrário, a distribuição dos talentos (não se aceitando uma visão teísta, como a de Locke – e nem Hobbes, nem Gauthier, nem Rawls enveredam por esse caminho) não resulta de um plano divino; é um facto que não tem produtor – portanto, nenhum “culpado”, nenhuma vítima.