A partir desta perspectiva, o desenvolvimento exige que se eliminem as principais fontes de falta de liberdade: a pobreza e a tirania, a escassez de oportunidades económicas e as privações sociais sistemáticas, o abandono em que podem encontrar-se os serviços públicos e a intolerância ou o excesso de intervenção de Estados repressivos. Trata-se de um processo de expansão das liberdades reais de que disfrutam as pessoas. O facto de centrarmos a atenção directamente nas liberdades humanas contrasta com as concepções mais estreitas do desenvolvimento que o identificam com o crescimento do PIB, com a industrialização ou com o progresso tecnológico. O crescimento do PIB, da indústria ou da tecnologia podem ser, desde logo, um meio muito importante para aumentar as liberdades dos membros da sociedade, mas as liberdades das quais os indivíduos realmente disfrutam dependem também de outros factores, como podem ser os ordenamentos sociais e económicos (por exemplo, os serviços de educação e de cuidados médicos) assim como os direitos civis e políticos (por exemplo, a liberdade de participar em debates e escrutínios públicos). Conceber o desenvolvimento como um processo de expansão das liberdades fundamentais leva a centrar a atenção nos fins a partir dos quais ganha importância o desenvolvimento, mais que em alguns dos meios que inter alia desempenham um destacado papel no processo.
Amartya Sen, Ética Empresarial e Desenvolvimento Económico, in Construir Confianza - Ética de la empresa en la sociedad de la información y las comunicaciones (AAVV)
Achei obrigatório trazer este texto que hoje li, dado que vem exactamente ao encontro a vários dos textos que aqui escrevi, como seja a defesa do individualismo para lá do mero anti-estatismo ou a comparação que fiz entre o economicismo neoliberal e o economicismo marxista.
Sem comentários:
Enviar um comentário