segunda-feira, 23 de julho de 2007

A imoralidade dos donos da moralidade

"Isso requer autocontrole e, portanto, influências religiosas e espirituais"

Espirituais, tudo bem. Espirituais pode significar várias coisas. Simplesmente, espirituais torna religiosas ou inúteis ou manifestação daquele princípio não só idiota em si como insultuoso.
Por partes:

- Inútil, porque engloba a religião, ultrapassando-a no entanto. Eu posso guiar-me por princípios espirituais e ser ateu. Aliás, a percentagem de ateus que têm valores espirituais firmes deve ser exponencialmente superior à dos crentes. Isto tem que ver com a alegada pelo próprio Lord Acton superioridade das minorias. Ao passo que a maioria das pessoas se afirma crente nalguma religião, fá-lo sobretudo por adesão irreflectida e por aquilo que eu costuumo chamar falta de livros. Não quer dizer que se lesse e pensasse muito, não chegasse a conclusões semelhantes e assim permanecesse religiosa. Significa que nunca pensou no assunto de forma profunda. Pelo contrário, a maior parte dos ateus lê e reflecte sobre o assunto - razão pela qual os ateus são tão criticados pelos crentes - e quase sempre adere a correntes filosóficas de algum tipo, nomeadamente àquelas que lhe parecem melhor fundamentar o seu ateísmo. Isto incute-lhes uma moralidade instruída e inteligente. Não estou a dizer que entre os crentes não haja gente assim. Digo que, ao passo que entre os ateus essa é a regra, entre os crentes essa é a excepção.

- Idiota se se conceber que a espiritualidade só pode ser religiosa. Não só (pelo que acabei de dizer) isto é tremendamente falso, como torna (se for esta a opinião) por sua vez, a palavra espirituais inútil e mera verborreia.

- Por fim, insultuoso porque se se entender que só as pessoas que tenham alguma crença religiosa têm autocontrole, capacidade de ser livres e de respeitar a liberdade alheia, não só se põe em causa boa parte da História da Humanidade (em que a religião sempre foi fonte de opressão e de violência) como significa dizer que os ateus e os agnósticos são seres imorais ou (disparate dos disparates, dado que não há ninguém que o seja) amorais.

2 comentários:

Anónimo disse...

Optimo texto que subscrevo na totalidade.
Também tenho sempre presente essa espiritualidade e no entanto não preciso de qualquer religião opressora, mentirosa e ridícula para ser quem sou. As religiões só atrasam e violentam a Humanidade!
Iris

Eurydice disse...

Concordo, Igor. É uma verdade por demais esquecida que a religião organizada pode ser a maior inimiga da espiritualidade.