Uma das (des)vantagens das sondagens é que retiram o elemento surpresa das eleições. Estas eleições intercalares da capital seriam, à partida, fonte de inesgotáveis surpresas.
Entre estas, no entanto e contrariamente ao que se tem dito, não entendo que se encontre a elevada abstenção. Dia 15 de Julho é uma data bastante propícia a uma elevada abstenção. A meio de um dos dois meses para os quais muitos portugueses marcam as suas férias, apanha uma fatia muito substancial de pessoas que tenham ido para fora. Podendo 37,4% parecer uma taxa de participação muito baixa, significa apenas que 1 em cada 4 habituais eleitores preferiram que outros escolham por eles quem é que será eleito. Pode ser mau - mas não é um drama. E sim, muitos candidatos pode gerar confusão nalgumas cabeças, mas creio que a maior parte das pessoas preferirá múltiplas possibilidades de voto que haver apenas duas hipóteses, uma frente de Esquerda e outra de Direita, como em 1997 (excluindo a coligação PSR/PXXI e o MRPP). Não sei se é excesso de optimismo meu, mas creio que a maioria das pessoas prefere o pluralismo.
Quanto ao PS, venceu, mas não só não teve a maioria absoluta (que pedaço de esterco retórico andar a pedir maioria neste cenário) como ficou abaixo dos resultados que as sondagens normalmente lhe davam. Não foi além dos 30%. Subiu face a 2005 em percentagem, mas uns míseros 2,98%, perdendo 18000 votos. Fraco, muito fraco resultado.
O PSD teve o que merecia. Reduziu-se a um quarto dos votos de 2005. Paula Teixeira da Cruz, por quem tenho até alguma admiração, é muito culpada e tarde ou cedo, e querendo ou não, pagará por isso. Fernando Negrão enterrou-se no lodo da distrital de Lisboa, quando podia calmamente esperar por 2009 para conseguir a primeira vitória do partido no distrito de Setúbal, vencendo com algum trabalho a CDU e esmagando sem problemas o PS.
Carmona teve o que não merecia, isto é, uma boa votação. Mesmo tirando o caso Bragaparques, mesmo esquecendo os ataques da distrital do PSD, ele revelou-se incompetente em mais que uma vez e mostrou que não tinha qualquer projecto para Lisboa. Ao contrário do que inicialmente quis mostrar, não só não é um bom técnico, como se revelou um excelente demagogo. E como nas autárquicas anteriores ficou bem demonstrado, o populismo compensa.
Helena Roseta (e aviso já que seria nela que eu votaria se vivesse em Lisboa) teve um resultado pior que as primeiras sondagens lhe davam e melhor que as últimas indicavam. Conseguiu um honroso quarto lugar, sem brilho mas com vitória. Do que sei e partindo dos meus conhecimentos pessoais, conseguiu ir buscar votos a quadrantes tão distintos como o BE ou o CDS. Provavelmente, o grosso dos votantes veio do PS, mas o voto em Roseta não me parece ter sido claramente nem carismático, nem baseado na competência técnica nem na ideologia. Ao contrário do que sucedeu com Alegre, o voto em Roseta foi provavelmente mais de centro e ao contrário do que sucedeu com Carmona foi menos emocional. Creio que ao pretender em dado ponto colocar-se entre o PS e o PSD abriu caminho no centro. Será uma questão de ver como evoluirá o seu movimento.
A CDU, sempre igual a si própria, afirmou pela boca do cabeça de lista que se confirma como a terceira maior força política de Lisboa, omitindo o seu quinto lugar, a sua quebra de dois pontos percentuais e a perda de cerca de 19500 votos.
O BE deve ter respirado de alívio. Perdeu 1% mas conseguiu folgadamente eleger Sá Fernandes. O perigo de Roseta roubar espaço ao Bloco estava presente, como sucedeu nas Presidenciais com Manuel Alegre, que tendo recolhido 180000 votos dos eleitores que escolheram o BE nas Legislativas anteriores (ou seja, metade) poderia ter provocado uma crise no partido, caso Louçã descesse dos 5%.
Perdedor, perdedor, foi no entanto o CDS e em particular Paulo Portas. Não se confirmou a tese segundo a qual as sondagens subestimam o partido, nem se confirmou a tese segundo a qual Portas tem um efeito catalisador nos seus resultados. 3,7% é mau, demasiado mau. Telmo Correia foi um mau candidato (limitar a campanha à Portela+1, às privatizações em massa - sem explicar como iria evitar a duplicação de contratação de pessoal e consequente aumento de despesas - aos meliantes e aos graffitis não chega para convencer ninguém) mas ainda assim não sei se foi suficientemente mau para os 3,7%. Eu creio que o CDS deverá reflectir sobre si próprio. A questão ideológica terá de ser equacionada - a ideia peregrina de se apresentar como um partido liberal parece cada vez mais disparatada. O CDS tem um espaço que lhe é próprio e que é o espaço conservador. A deriva pretensamente liberal não só não convence o centro, de facto liberal, como aliena a direita, necessariamente conservadora.
De um grande perdedor, passo aos pequenos vencedores. O MRPP é uma espécie de doente comatoso que de vez em quando acorda. Quando pensávamos que estava morto, reaparece. Aumentou 433 votos e subiu de 0,95% para 1,59%.
Preocupantes foram os resultados do PNR. Ainda não vi ninguém a reflectir sobre os seus resultados, mas a estratégia de visibilidade mediática do partido fascista está a dar frutos. De 798 passou para 1501 votos, de 0,28% para 0,77%. Exceptuando o MPT e o PPM que não se apresentaram nas últimas eleições, o PNR foi dos partidos que concorreram em 2005 o que teve, de longe, a maior subida, tanto em número absoluto de votos (703) como em percentagem relativa (+175%). Por regra sou defensor da tese do cordão sanitário - omiti-los para que percam relevância. Mas se a tendência de crescimento se confirmar, alguma coisa terá de ser feita.
Preocupantes foram os resultados do PNR. Ainda não vi ninguém a reflectir sobre os seus resultados, mas a estratégia de visibilidade mediática do partido fascista está a dar frutos. De 798 passou para 1501 votos, de 0,28% para 0,77%. Exceptuando o MPT e o PPM que não se apresentaram nas últimas eleições, o PNR foi dos partidos que concorreram em 2005 o que teve, de longe, a maior subida, tanto em número absoluto de votos (703) como em percentagem relativa (+175%). Por regra sou defensor da tese do cordão sanitário - omiti-los para que percam relevância. Mas se a tendência de crescimento se confirmar, alguma coisa terá de ser feita.
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