sexta-feira, 20 de julho de 2007

O que é um Técnico

Aqui faz-se uma apologia dos técnicos e, na prática, uma negação da política. Este tipo de atitudes dá-me comichões terríveis, desde logo porque denuncia ou um certo ódio à democracia e uma completa incompreensão do que é a política.

Levanta-me, para além disso, uma série de questões que expus nos comentários ao texto mas que transponho para aqui.


para que se possa devolver o exercício do poder aos técnicos, aos sábios

Concordando eu com a descrição que no texto é dada dos partidos, esta frase até me arrepia.


  • Em primeiro lugar, o que é um técnico?
  • Em segundo lugar, quem disse que os técnicos são sábios?
  • Em terceiro lugar, quem disse que a política tem que ver apenas com técnica e não com valores?
  • Se aceitarmos que a política também tem que ver com valores, quem disse que os técnicos são as pessoas mais indicadas para definir os valores prioritários?
Claro que muito das respostas dependerá do que se entender por "técnico" (pode a definição de técnico ser tão vasta que inclua as figuras que a seguir refiro, mas nesse caso fica-se sem se perceber por que foram chamados de técnicos) mas os políticos competentes, os grandes estadistas e políticos não eram "técnicos" e alguns deles pouco fizeram ao longo da sua vida senão política: lá fora, Churchill, Roosevelt, De Gaulle ou até Tatcher, que presumo que seja uma figura simpática a muitos dos tecnocratas e que era uma engenheira química, portanto de gestão de países pouco ou nada sabendo por não era uma técnica. Também presumo que adorem Reagan, e ele de técnico nada tinha, a menos que se refira a técnicas de artes dramáticas. Cá em Portugal, Soares ou Sá Carneiro não se distinguiram propriamente pelo seu brilhantismo académico ou profissional, mas pela sua sistematização ideológica, coragem e capacidade de mobilização.


Manuela Ferreira Leite, essa sim, é uma técnica. No entanto, pode alguém seriamente acreditar nela (mesmo que simpatize com ela) para tirar o PSD do buraco?

4 comentários:

Anónimo disse...

Igor,

Eu até concordo consigo, mas há aí uma confusão

É evidente que eu não defendo, nem defendi no meu texto, que todos os políticos têm de ser técnicos. Isso não faria sentido. É preferível até, nos altos cargos, a presença de líderes e não de técnicos. Pessoas com capacidade de liderar, contudo, bons técnicos com responsabilidades políticas.
Ora, o problema é que nem só o primeiro-ministro ou mesmo os ministros são governantes. Na hierarquia do Estado, há muitos governantes.
Vejamos o exemplo dos radares instalados na cidade de Lisboa. Estamos na presença de uma decisão política que ultrapassou os mais rigorosos conselhos técnicos. Alguns governantes decidiram, unilateralmente, instalar radares. Mesmo quando tinham, em algumas zonas, o poder de gerir o tempo dos sinais, reduzindo eficazmente a velocidade. Neste caso, políticos do PSD tomaram uma decisão que devia ser técnica, ainda que tenha naturalmente uma componente política (a decisão).
Faz sentido que nestas e noutras matérias, militantes do PSD (ou outros) tomem decisões relevantes, com todos os encargos inerentes? Será que deve ser uma pessoa que chegou a vereador por ser vice-presidente de uma concelhia qualquer, a gerir o seu dinheiro? A fazer escolhas por si? A mostrar-lhe o caminho?
Não me parece.

Em relação ao seu comentário sobre Manuela Ferreira Leite, também estou de acordo. Mas compreenderá que naturalmente eu não ache que todos os técnicos podem ser bons políticos. Claro que não. E o exemplo que deu é muito bom, ainda que mesmo tecnicamente não se deva considerar Manuela Ferreira Leite intocável.

Cumprimentos,
JCS

Igor Caldeira disse...

Olá,

Os vereadores foram eleitos para governar e gerir. Há matérias que são técnicas, outras que são políticas. O que os vereadores devem preocupar-se em fazer será rodearem-se de assessores tecnicamente competentes. Se não o fizerem, correrão o risco de serem punidos pelo eleitorado (eu sei, não é tão líquido quanto isso, mas vá, que alternativas temos?) pelas más decisões que tomarem.

Quanto a MFL, eu vi o seu post anterior depois de ter escrito o meu comentário. ;-) E sim, ninguém está (felizmente) acima de qualquer crítica e, ao que já ouvi, MFL em particular. Ainda assim, quis dar um exemplo que fosse tido genericamente como o de um técnico e não de alguém com grandes capacidades políticas.

A esse propósito, disse recentemente Saldanha Sanches que se MFL tivesse ido liderar o PSD após Durão teria hipóteses, agora é tarde. Concordo com ele - MFL é o exemplo de um PSD governamentalizado e que não sabe viver em oposição. Percebe como se comportar com poder mas espalha-se sem ele. É um facto. Não sei como acabará esta crise.

Anónimo disse...

Você parece-me um intectual de esquerda que adora a DEMOcracia e as suas confusões. Geralmente pessoas como você votam sempre no pior que aparece, nomeadamente de partidos como o PS ou o BE que nada têm para oferecer ao país a não ser empregos para os amigos para que tal como eles, se encham até virem os próximos.

Você até me parece inteligente e por isso não tem desculpa para não compreender os caminhos que toma, por isso temo que escolhe o MAL deliberadamente e sem nenhuns remorsos.

Você é um deles.

Será preciso dizer mais?

Igor Caldeira disse...

Sim, é isso, eu sou um pecador que escolhe o lado do Mal e do Demo (aqui refere-se ao povo ou ao demónio?).

Não sei em concreto o que motiva o seu comentário, se ideologite conservadora e antidemocrática se partidarite. À primeira vista, parece-me que é mais um pseudoliberal à portuguesa, que acha que liberalismo é compatível com a defesa de regimes autoritários como o salazarista.
No entanto, uma análise mais cuidada faz-me pender para a hipótese de o senhor não ter gostado da observação que fiz do PSD, e com isso ficamos conversados: acusar o PS ou o BE de distribuírem empregos pelos amigos e achar que o PSD (ou o PP) é pelo contrário vazio de actos desse tipo deve ser para rir. Para rir, porque é melhor não dar muita importância à demência.