


Não sou um adepto fervoroso de tratamentos de choque. No entanto, de há uns dois meses para cá comecei a tomar conhecimento da situação da comunidade LGBT no Irão e creio que a dimensão do problema merece o recurso aos recursos mais extremos. Na sequência de posts e comentários lidos no
Devaneios Desintéricos e no
Arrastão, resolvi escrever este post.
Isto dava pano para mangas, pelo que vou apenas falar de quatro questões. Obrigatoriamente, a legal. Em segundo lugar, do que escapa às malhas da lei e da internet. Em terceiro, da situação dos refugiados e por último da situação dos transsexuais, consideravelmente distinta da dos homossexuais.
O
crime de sodomia é punida com morte, em forma a definir pelo juiz, no caso de se tratar de homens adultos e conscientes. Não adultos, 74 chicotadas. A homossexualidade feminina é punida com pelo menos 100 chicotadas, podendo ser aplicada a pena capital à terceira repetição. Exactamente a mesma punição tem o coito inter femora. A nudez com membros do mesmo sexo é punida com 100 chicotadas e os beijos com 60. Já agora,
o Irão é o único país em todo o mundo que ainda executa crianças. Para além disso,
a condenação de homossexuais é por vezes encapotada com alegações de rapto e de violação e não directamente pelo crime de sodomia. É um facto também que os números da perseguição às minorias sexuais estão abaixo da realidade: é impossível contabilizar, por exemplo, os números relativos aos
crimes de honra.
Isto não significa que a vida homossexual esteja completamente anulada. Bem pelo contrário. Fica a reportagem da CBS (em três partes), transmitida em Fevereiro deste ano.
4 comentários:
O problema do Irão não são os direitos dos homossexuais: são os DIREITOS DE TODOS OS CIDADÃOS!
Penso sempre que não devem ser separados os grupos minoritários, porque os direitos têm de ser de todos e têm de ser reclamados enquanto tal. Os homossexuais têm os direitos TODOS enquanto SERES HUMANOS. Não interessa a sua orientação sexual, senão estamos a discriminá-los na mesma. Estranho que os próprios não se apercebam disso. O que temos que fazer é afirmar os direitos de TODOS OS SERES HUMANOS. O resto virá como consequência. Pode ser uma mariquice [ups!:)] mas na realidade faz toda a diferença enquanto posição de princípio. E é a única defesa inatacável e verdadeiramente coerente, visto que é aquela que de facto subjaz a toda a argumentação a favor dos seus direitos.
Olá Bianca, compreendo o teu argumento, mas o problema dessa perspectiva é a de não ter em consideração que há questões particularmente graves.
Por exemplo, é um facto que a pena de morte é sempre errada; no entanto, quando à pena de morte se juntam factores agravantes (o facto de ela se aplicar a grupos específicos ou a especvial crueldade das formas de execução da pena, para citar dois exemplos) isso tem de ser tido em conta.
Há casos - as mulheres ou os homossexuais - que têm de ser especialmente denunciados. Não basta dizer que o Irão é genericamente um país com leis iníquas. É preciso mostrar com exemplos concretos e chamar a atenção para esses exemplos. O caso que este post trata é para além disso agravado pelo facto de estar longe de ser consensual que a luta contra as discriminações pela orientação sexual seja válida. Prova disso é a posição dos Estados Unidos nas Nações Unidas.
Fica aqui o artigo
http://hrw.org/english/docs/2006/01/25/iran12535.htm
que bem podia ter ficado no post mas que de qualquer das formas aproveito para divulgar. Quando mesmo a comunidade internacional rejeita o combate pelos direitos lgbt, enquanto pode abraçar outras (democracia, direitos de minorias religiosas, liberdade de expressão, etc.) que devemos nós fazer?
Há casos e há casos. Não são todos iguais. Uma coisa é algo que está mal e que é mal vista pelos outros países. Outra é algo que está mal e que os outros países aplaudem ou fazem por ignorar.
Percebo o teu ponto de vista Igor, mas realmente acho que os direitos devem ser defendidos com unhas e dentes em bloco! Não estou contra o facto de se fazer um post, um artigo ou uma intervenção relativamente a casos particulares e concretos, como este teu post. Mas estou contra a discriminação na luta em si, nas acções propriamente de reivindicação. É uma questão de ergonomia: onde os homo sofrem, as mulheres também e as crianças e toda a gente em geral... é mais eficaz juntar todos os esforços, acho eu.
excelente texto, caro Igor.
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