Pretendo eu demonstrar exactamente o contrário: que a dispersão da propriedade e um grau mínimo de igualdade social, para além de promoverem o mérito, protegem a propriedade. Não vou agora escudar-me em autores - para que não me acusem de ser um mero teórico. A minha resposta vai simplesmente ser um conjunto de perguntas.
- Em Portugal, onde é que a Reforma Agrária e a colectivização das terras se deu: no Sul dos latifúndios ou no Norte das pequenas quintas unifamiliares?
- Onde é que o capitalismo se instalou sem sobressaltos: na Inglaterra dos burgueses ou na Alemanha dos aristocratas?
- Onde é que a ideologia comunista alcançou o poder: na Rússia que nunca conheceu sequer o mais incipiente Estado Social, ou nos países que mais o desenvolveram (Escandinávia, Alemanha, Reino Unido, França)?
Respondidas estas perguntas, creio que não será preciso ser um génio para concluir que, mesmo que não aceitemos que o ser humano é digno em si mesmo, que deve ser encarado como um fim em si mesmo não como um meio e que por isso temos sempre de definir mínimos de redistribuição da riqueza, ou seja, mesmo que numa óptica exclusivamente egoísta e anti-humanista, teremos de ter em atenção que sociedades anquilosadas pela estratificação social rígida e minadas pela desigualdade crescente serão sempre sociedades mais instáveis. A concentração da propriedade não a protege, antes comportando um preço que a qualquer momento poderá ser pago. A revolta social é a contrapartida da defesa do privilégio.
É, no fundo, uma questão de responsabilidade: quando pretendemos ser libertinos e cercear a liberdade alheia, teremos de sofrer as consequências. Na guilhotina, por exemplo.
Sem comentários:
Enviar um comentário