Quando há uns anos houve uma tentativa de golpe de estado contra Hugo Chávez, fiquei chocado com o apoio, mais ou menos aberto, mais ou menos velado de vários governos (a começar pelo português, nos tempos da coligação PSD/CDS). De facto, por muito pouco que possamos gostar de Chavez, não tinha havido nada de gritantemente inaceitável. Não havia pessoas perseguidas, não havia fecho de meios de comunicação social, não havia nacionalizações em massa. Havia, isso sim, uma política basista que buscava apoio entre os muitos milhões de miseráveis que sucessivos governos de Direita na sabedoria que lhe é tão própria mantiveram a racaille enquanto racaille. Com muitos laivos de populismo, sem dúvida - mas é aqui que quero chegar.
A tragédia sul-americana é justamente esta aparente impossibilidade de ter governos decentes - ou há uma Direita que se agarra ao poder de todas as formas que pode (inclusivamente com todos os golpes de Estado que puder - lembremo-nos do Chile) ou há uma Esquerda que ou é forte mas populista, ou democrática mas frágil (sendo derrubada pela Direita).
É um facto que o Brasil parece ter saído deste ciclo: Fernando Henrique Cardoso será talvez o grande responsável e Lula soube manter o seu legado. É um facto também que outros países (Cone Sul) podem estar a trilhar já este caminho - mas não cantemos vitória demasiado cedo.
Ora, país que de todo não tem luz ao fundo do túnel é a Venezuela. O fecho de duas estações de televisão não só não auguria nada de bom como é, para mim pelo menos, razão suficiente para um golpe de Estado. Sei os perigos que se levantam com esta defesa, mas Chávez não pode prosseguir neste caminho. Que ele, por uma vez na vida daquele povo, faça algo de decente pelos mais pobres, eu compreendo; que isso seja utilizado para acabar com a liberdade de a oposição o contestar (e, eventualmente, derrubá-lo nas urnas) é um filme que já todos vimos.
A tragédia sul-americana é justamente esta aparente impossibilidade de ter governos decentes - ou há uma Direita que se agarra ao poder de todas as formas que pode (inclusivamente com todos os golpes de Estado que puder - lembremo-nos do Chile) ou há uma Esquerda que ou é forte mas populista, ou democrática mas frágil (sendo derrubada pela Direita).
É um facto que o Brasil parece ter saído deste ciclo: Fernando Henrique Cardoso será talvez o grande responsável e Lula soube manter o seu legado. É um facto também que outros países (Cone Sul) podem estar a trilhar já este caminho - mas não cantemos vitória demasiado cedo.
Ora, país que de todo não tem luz ao fundo do túnel é a Venezuela. O fecho de duas estações de televisão não só não auguria nada de bom como é, para mim pelo menos, razão suficiente para um golpe de Estado. Sei os perigos que se levantam com esta defesa, mas Chávez não pode prosseguir neste caminho. Que ele, por uma vez na vida daquele povo, faça algo de decente pelos mais pobres, eu compreendo; que isso seja utilizado para acabar com a liberdade de a oposição o contestar (e, eventualmente, derrubá-lo nas urnas) é um filme que já todos vimos.
No meio de tudo isto, onde andam os EUA? Bom, com o Médio Oriente a ferro e fogo, Chávez - que diz que Bush cheira a enxofre, mas que nunca interrompeu as exportações de crude e petróleo para os gringos, alegremente mantendo-se como quinto maior exportador para aquele país - é perfeitamente aceitável. É certo igualmente que cometeram uma gaffe em 2002 e que não a querem repetir.
Juntando o agradável ao útil, parece que a liberdade que os EUA tanto afirmam que pretendem defender vai ter de ficar para segundo plano. Pois é - quando a liberdade não significa mais petróleo, de repente deixa de parecer tão apelativa.
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