É uma questão delicada. Por muito que os comportamentos discriminatórios contem com a minha antipatia, será legítimo recorrer a dinheiros públicos de modo a promover a aceitação de um determinado grupo? Já em tempos comentei:
"até que ponto terá o estado, quer o direito, quer o dever de interferir nos comportamentos irracionais, ou eventualmente imorais de cada cidadão, com o fim de promover uma sociedade desprovida de comportamentos identitários? É que repare-se nos precedentes aqui estabelecidos: (1) caberá a partir de agora a alguém definir o que é um grupo frágil, podendo cada um poder alegar pertencer a essa categoria, abrindo assim um precedente despropositado, e (2) o estado segue uma estratégia de inferiorização das pessoas que pretende defender, corroendo qualquer margem para uma entidade própria, recusando a variedade e identidade que um indivíduo. Para além de prestar um mau serviço à sua auto-estima."
O que pode e normalmente acaba por acontecer é que a prazo a necessidade de intervenção estatal esbate-se. De facto, nos países escandinavos não é preciso a burocracia estar em cima dos partidos a ver se cumprem quotas. Elas são cumpridas de forma natural. Há 50 anos atrás acredito que as taxas de participação feminina não fossem as actuais. Foi preciso descongelar a sociedade, mas uma vez "descongelada", funciona por si própria.
Quanto à auto-estima, que auto-estima tem um jovem cujas únicas perspectivas e maiores sonhos são ser rapper, jogador de futebol ou gangster (ou as três em simultâneo)? A única coisa que se tem de definir é até onde estamos disponíveis a fazer o empowerment social e até onde ele é necessário. E sim, os limites são cinzentos. Como tudo na vida.
Percebo. Tu definitivamente acreditas nos Visionários, que têm o dom de descongelar o povo do obscurantismo. Resta agora definir quem é a pessoa adequada para decretar o que é o obscurantismo, e quais as pessoas que vivem nele. Quando crias o precedente para este caminho, tudo é possível. Desde o mercado das misérias, e da mendicidade moral, ao mercantilismo dos ajustes de contas. Quais fronteiras?
As fronteiras nascem livremente. De facto, se em determinado país existe escravatura, como na Mauritânia, é o mercado que o exige, portanto, vamos aceitá-lo. Combater a escravatura é empreender um caminho demasiado perigoso. Como definiremos as fronteiras?
5 comentários:
É uma questão delicada. Por muito que os comportamentos discriminatórios contem com a minha antipatia, será legítimo recorrer a dinheiros públicos de modo a promover a aceitação de um determinado grupo? Já em tempos comentei:
"até que ponto terá o estado, quer o direito, quer o dever de interferir nos comportamentos irracionais, ou eventualmente imorais de cada cidadão, com o fim de promover uma sociedade desprovida de comportamentos identitários? É que repare-se nos precedentes aqui estabelecidos:
(1) caberá a partir de agora a alguém definir o que é um grupo frágil, podendo cada um poder alegar pertencer a essa categoria, abrindo assim um precedente despropositado, e
(2) o estado segue uma estratégia de inferiorização das pessoas que pretende defender, corroendo qualquer margem para uma entidade própria, recusando a variedade e identidade que um indivíduo. Para além de prestar um mau serviço à sua auto-estima."
O que pode e normalmente acaba por acontecer é que a prazo a necessidade de intervenção estatal esbate-se. De facto, nos países escandinavos não é preciso a burocracia estar em cima dos partidos a ver se cumprem quotas. Elas são cumpridas de forma natural. Há 50 anos atrás acredito que as taxas de participação feminina não fossem as actuais. Foi preciso descongelar a sociedade, mas uma vez "descongelada", funciona por si própria.
Quanto à auto-estima, que auto-estima tem um jovem cujas únicas perspectivas e maiores sonhos são ser rapper, jogador de futebol ou gangster (ou as três em simultâneo)? A única coisa que se tem de definir é até onde estamos disponíveis a fazer o empowerment social e até onde ele é necessário. E sim, os limites são cinzentos. Como tudo na vida.
Percebo. Tu definitivamente acreditas nos Visionários, que têm o dom de descongelar o povo do obscurantismo. Resta agora definir quem é a pessoa adequada para decretar o que é o obscurantismo, e quais as pessoas que vivem nele. Quando crias o precedente para este caminho, tudo é possível. Desde o mercado das misérias, e da mendicidade moral, ao mercantilismo dos ajustes de contas. Quais fronteiras?
E o mercado das misérias é o que surge de abandonar os indivíduos à vontade das elites. Sim, as elites always knows best.
As fronteiras nascem livremente. De facto, se em determinado país existe escravatura, como na Mauritânia, é o mercado que o exige, portanto, vamos aceitá-lo. Combater a escravatura é empreender um caminho demasiado perigoso. Como definiremos as fronteiras?
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