terça-feira, 21 de agosto de 2007

As reformas e os descontos: o que não tem solução, solucionado está


Luís Lavoura, Speakers Corner



Actualmente, quem mais desconta - aquele que trabalhe por conta de outrem no sector privado - poupa 28.08% (Salário=100; 11% descontados do salário mais 23,75% sobre os 100 pagos pelo empregador; Percentagem de descontos = 33,75/123,75x100). Desses 28,08% temos de tirar o dinheiro que vai para protecção no desemprego, doença, maternidade/paternidade. E não nos esqueçamos que estes são os que mais descontam. Os que menos descontam são os sacerdotes, com apenas 9,26% (2% do rendimento mais 8% pagos pelo empregador).

Seja num sistema puro de solidariedade intergeracional, seja num sistema totalmente privatizado, seja num sistema misto, habituemo-nos à ideia: a festa acabou. Só há dois caminhos: ou aumentamos (e muito) o que poupamos, ou passamos a receber (muito) menos.
Provavelmente, o mais sensato é procurar caminhos intermédios. Um dos cruciais será, no que concerne ao sistema público, aumentar a idade mínima de reforma e/ou o número mínimo de anos de trabalho.
Faz sentido reformar pessoas aos 50 anos? É um insulto à inteligência de qualquer um. É óbvio que essa pessoa, com 30 anos de trabalho, nunca descontou o suficiente para viver 20 ou 30 anos reformado.

No que diz respeito aos sistemas privados, são necessários para introduzir responsabilidade. No entanto, é preciso ser muito papalvo para os engolir como panaceia universal. Ao longo de uma carreira contributiva de 40 anos é inevitável que haja mais que uma crise bolsista, e está longe de ser improvável que haja um crash realmente grave. Se isso apanhar os últimos anos de trabalho de alguém, é especialmente grave, porque já não há hipótese de trabalhar para repôr o dinheiro perdido. Portanto, os sistemas de capitalização privada são necessários. Mas não se idealize demasiado.

4 comentários:

Colectivo GZ-Israel disse...

Venho de descubrir o teu blog. Parabéns. Marcareino como favorito.

Pedro Gómez-Valadés disse...

Caro Igor,
Desde a modestia, preséntoche o meu (modesto, realmente modestísimo) blog europeísta. O seu nome pouco orixinal: EUROPA, EUROPA.

http://galiza-europa.blogspot.com/

Unha aperta desde a Galiza
Pedro

Anónimo disse...

Caro Igor,
Eu não quero ser obrigado a trabalhar até morrer...

Igor Caldeira disse...

Colectivo: não conhecia a citação de Luther King que tens no teu blog. Está brilhante.

Pedro: haja mais blogs europeístas. Já agora, não sei se já visitaste o site em defesa de um Referendo Europeu; visita, se concordares assina e divulga. Em breve haverá uma versão em português.
Abraço portugalego ;-)

José Luiz: eu compreendo o que dizes, mas repara. Vou-te dar um exemplo muito simples. Eu comecei a descontar aos 22 anos. Se trabalhar 45 anos - parece imenso, não parece? - reformar-me-ei aos 67. É muito? Não creio. Será cada vez mais comum encontrarmos pessoas de 65 anos ainda capazes de desempenhar boa parte das profissões (que exigem cada vez menos esforço físico). Outros casos podem ser previstos, por razões de saúde, mas um homem que se reforme aos 67 anos vai ter mais 6 anos de vida (em média, sendo que provavelmente será mais, na medida em que a esperança média de vida tem vindo a aumentar; por outro lado, estes números incluem pessoas que morrem aos 10, aos 30, aos 45 anos e que baixam muito a média; portanto, quem viver até aos 67 anos de certeza que terá em média pela frente mais de 8 anos de vida); no caso das mulheres, a esperança ainda é maior: 13 anos (estes são dados de 2000).

Portanto, para ter uma reforma aceitável, imaginemos quanto é preciso poupar ao longo da vida. O dinheiro não cai do céu. Mesmo no sistema actual, alguém tem de pagar as reformas. Ninguém quer trabalhar até morrer. Eu, por exemplo. E para que eu não trabalhe até morrer e fique enterrado em impostos, é preciso que as gerações que se estão a reformar agora sejam menos egoístas. O descalabro da Segurança Social resume-se a isto: alguma inconsciência e um tremendo egoísmo.