domingo, 5 de agosto de 2007

Augustas Borlas


Ano após ano, tenho dificuldade em chegar a Agosto sem um sentimento de injustiça tremendo, relacionado com as portagens na Ponte 25 de Abril. Durante onze meses a fio, os habitantes da margem sul do Tejo são forçados a pagar uma taxa para irem trabalhar a Lisboa. Não é que me incomode a taxa em si - ela é defensável sob pelo menos duas perspetivas, ambas válidas. Refiro-me ao princípio do utilizador-pagador e à limitação à entrada de veículos na cidade. Nada contra.

Ética, económica e ambientalmente indefensável é a borla que se continua a dar no mês de Agosto. Se durante onze meses colocamos uma taxa sobre o trabalho dos habitantes da margem sul, por que motivo se concede uma borla ao lazer dos habitantes da margem norte? Não quero avançar com moralismos idiotas - o trabalho é importante, o lazer também. Mas ao passo que o trabalho é obrigatório, o lazer não. Isto tem uma implicação imediata que é a de sermos forçados a reconhecer que o estatuto de um e de outro não são iguais. Não precisamos contudo de dar nenhum tipo de privilégio a quem trabalha nem prejudicar quem busca umas horas de sol. Basta não atribuírmos a quem trabalha o ónus de pagar o lazer alheio.

Numa perspectiva económica, é indefensável que os veraneantes que vão para as praias da Caparica não paguem o seu serviço (utilização da ponte) como pagam o seu serviço (relembro, utilização da ponte) os trabalhadores que vão para Lisboa.
Numa perspectiva ambiental, é igualmente indefensável que não se tente limitar a utilização excessiva do automóvel - fonte de distúrbios no trânsito e na vida das populações da península de Setúbal, tal como o é para a população da cidade de Lisboa no resto do ano - nem se promova os transportes públicos por parte de quem vai de Lisboa para o sul.

Não há nada, nenhum argumento racionalmente aceitável que justifique esta situação. A única coisa que existe é conformismo com uma benesse salazarenta e, possivelmente, alguma cobardia política.


A solução? Faça-se uma estimativa a partir das receitas médias anuais das portagens da ponte 25 de Abril e do tráfego registado no mês de Agosto. Diminua-se o valor da portagem na medida em que aumentem as receitas relativas ao mês em causa. É simples, é justo e creio que ninguém de bom senso poderá opôr-se.

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